José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
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homem (reatan<strong>do</strong>, assim, laços com os ideais românticos) e a sua consequente<br />
interiorização pelo poeta, para uma posterior proclamação, na esteira <strong>do</strong>s<br />
expressionistas. Não podemos deixar de associar esses “gritos” ao quadro de Eduard<br />
Munch <strong>–</strong> O <strong>Grito</strong>, conota<strong>do</strong> com o surgimento <strong>do</strong> Expressionismo. Nesse quadro, está<br />
representa<strong>do</strong> o grito de alguém vira<strong>do</strong> para nós (os destinatários da sua mensagem) e<br />
de costas para o mun<strong>do</strong>, mostran<strong>do</strong>, nesse grito, aquilo que resulta da sua observação<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e o que passa a existir pela sua expressão artística (o grito). Com o<br />
Expressionismo, a intenção <strong>do</strong> autor é recriar o mun<strong>do</strong> e não apenas absorvê-lo como<br />
ele aparece. Assim, opõe-se à objectividade da imagem o subjectivismo da expressão. A<br />
reprodução da realidade tal como ela existe é inútil e desnecessária e talvez se tenha<br />
torna<strong>do</strong> impossível. O expressionista já não vê, a realidade deixou de ser contemplada<br />
segun<strong>do</strong> os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s, mas tem visões, consegue projectar imagens subjectivas<br />
e interioriza<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> real. Também <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> forma a imagem <strong>do</strong> século<br />
segun<strong>do</strong> a sua vontade. O seu espírito cria e não reproduz, já que são, em primeiro<br />
lugar, as suas vontades que criam a realidade, como poeticamente nos ilustram os<br />
versos finais <strong>do</strong> poema XXVIII da série Província:<br />
(E é a isto que os homens chamam Arte:<br />
tu<strong>do</strong> por dentro de nós<br />
no além da própria voz) (<strong>Ferreira</strong>, 1991:29).<br />
Esta preocupação com a expressão <strong>do</strong> interior <strong>–</strong> “tu<strong>do</strong> por dentro de nós”-<br />
nitidamente inspirada pelo esteticismo expressionista em que se procura conciliar a<br />
Encruzilhadas de uma Escrita 101