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José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

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Entretanto, é essa consciência <strong>do</strong> poder da poesia / missão <strong>do</strong> poeta 134 que lhe faz<br />

renascer o grito, no poema XXXVII da série Café:<br />

Que importa, Poesia,<br />

que vivas apenas um momento<br />

de relâmpago num punhal (…)<br />

Nasci para este instante de grito nas bocas a ignorarem-me<br />

— brilho fugaz dum raio de sol escuro<br />

a rasgar na floresta/ imitações de aurora.<br />

Vá, Poesia, despreza a glória <strong>do</strong> futuro<br />

grita, raiva, protesta! (<strong>Ferreira</strong>, 1991a:62)<br />

Mesmo assim, tal invectiva não ilude a sua vivência poética em tensão: “(Mas o meu<br />

coração chora)”. Esta tensão ganha particular expressão no poema LXIII da série Café<br />

(<strong>Ferreira</strong>, 1991a:79), onde a epígrafe (“Estética <strong>do</strong> grito.”) sugere a assumpção de uma<br />

134<br />

“Missão de quê? De sacerdócio a Victor Hugo: Missão Mágica? Missão de transformar a terra com<br />

palavras vivas? De transmitir aos outros as pequeninas verdades que são o segre<strong>do</strong> da poesia? Não<br />

sei. Missão de cantar. De ter a coragem de revelar o que paira em nebulosa nas almas alheias. Missão<br />

talvez misteriosa, mas que <strong>–</strong> e isto é muito importante, importantíssimo até <strong>–</strong> NÃO TORNA OS<br />

POETAS DIFERENTES DOS OUTROS. Antes pelo contrário: exige que se assemelhem o mais<br />

possível aos chama<strong>do</strong>s homens vulgares, que se identifiquem quase com eles, para melhor poderem<br />

exprimir o que anda sepulto e sem voz nas paixões, no amor, na cólera, nos anseios, no mistério de<br />

to<strong>do</strong>s” (<strong>Ferreira</strong>, 1977: 171).<br />

Para a definição / construção <strong>do</strong> Poeta Militante 147

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