José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
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de primavera, de a<strong>do</strong>ptar uma atitude decadentemente romântica, etc” (Torres,<br />
1990:136).<br />
Esta acusação da falibilidade <strong>do</strong> eu individual é alargada aos poetas:<br />
vejam esta criança (…)<br />
não nasceu das lágrimas <strong>do</strong>s poetas<br />
mas da fonte <strong>do</strong>s olhos de uma prostituta. (<strong>Ferreira</strong>, 1990a:303)<br />
E a luta mantém-se no poema da série Eléctrico, com um enaltecimento aparente da<br />
poesia humanitária, “vivam os bons sentimentos” (1990a:327), imediatamente desfeito<br />
pelo grito “ bem sei cobarde. Chora a flor para te esquecer da criança que te pediu<br />
esmola eléctrico” (ibidem:327)<br />
E é repensada na epígrafe no poema XXV, da série Encruzilhada (<strong>Ferreira</strong>,<br />
1991a:147) “ (Recitei os meus gritos antigos: Ninguém vê as minhas lágrimas, mas<br />
choro. (…) Poeta, homem cria<strong>do</strong> pelo frio das palavras)”, e desenvolvida no corpo <strong>do</strong><br />
poema em <strong>do</strong>is momentos:<br />
1. “Dantes (…) gritava com a sensação de nascer das palavras”<br />
2. “Agora morro nelas”.<br />
No poema I da série “Lágrimas Trocadas” (<strong>Ferreira</strong>, 1998:11), que abre o Poeta<br />
Militante III, o poeta confessa a falta de transparência <strong>do</strong>s poetas e a sua incapacidade<br />
de chorar as lágrimas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>: “Mas quem os chora? Oh! Eu não, o terrível não<br />
opaco <strong>do</strong>s poetas”. E surge a ideia de impotência <strong>do</strong>s poetas já presente em Poeta<br />
Militante I, face à necessidade de uma intervenção acutilante, visível no uso da<br />
Encruzilhadas de uma Escrita 87