José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
diz ‘ego’. (…) A linguagem só é possível porque cada locutor se coloca como ‘sujeito’,<br />
remeten<strong>do</strong> para si mesmo, como eu, no seu discurso” (sd:51) 11 .<br />
E se num primeiro momento <strong>–</strong> “tácita na infância e consciente aos vinte anos” <strong>–</strong> essa<br />
entidade era “Alguém que vivesse poeticamente através de to<strong>do</strong>s os sacrifícios, tropeços e<br />
entraves”, num segun<strong>do</strong> momento <strong>–</strong> em mil novecentos e quarenta e tal <strong>–</strong> torna-se o<br />
“Poeta Militante”. Então, o poeta militante é uma construção edificada ao longo <strong>do</strong><br />
tempo e da obra poética de <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>. Esta percepção é já anotada por nota<br />
Paula Morão, quan<strong>do</strong> afirma:<br />
Les récits d’enfance de <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> sont très intéressants (…) car le mythe du<br />
poète qu’il se construit lui même se fonde sur la narration de l’enfance, que cet auteur<br />
entreprend à plusieurs reprises (2003: 64) 12 .<br />
Igual perspectiva assume Ramos Rosa que, no momento de homenagear <strong>José</strong><br />
<strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>, lhe dedica o seguinte poema:<br />
10 Ao longo <strong>do</strong> nosso trabalho, nas análises textuais <strong>do</strong> Poeta Militante, faremos uso indistinto <strong>do</strong>s<br />
termos sujeito poético, eu poético, eu <strong>do</strong> poema e poeta, para nos referirmos àquele que diz eu nos textos,<br />
isto é, à Voz Única, por considerarmos que, na obra de <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>, esses termos se<br />
equivalem, da<strong>do</strong> que, tal como afirma Maria Lúcia Lepecki, “o eu lírico não raro se denomina poeta”<br />
(1988:69).<br />
11 Opinião corroborada por Kerbrat-Orecchioni : “Toute production discursive présuppose l’existence<br />
d’un sujet producteur, qui s’inscrit dans l’énoncé directement à l’aide du signifiant «je»” (1980 :171).<br />
12 A autora já tinha trabalha<strong>do</strong> esta ideia no seu texto <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>: o enigma <strong>do</strong> nome, no qual<br />
afirma: “Enquanto esperamos pelos volumes que falta editar <strong>do</strong> Diário <strong>do</strong>s Dias Comuns, limitamo-<br />
-nos a verificar o lugar central da constituição <strong>do</strong> sujeito em to<strong>do</strong>s, mas em to<strong>do</strong>s mesmo, os escritos<br />
<strong>do</strong> poeta.” (2002: 208).<br />
Universo da Criação <strong>Poética</strong> 23