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José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

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Eu<br />

para aqui mistura<strong>do</strong> com olhos de cadáveres,<br />

raiva a despir-me no chão de luto,<br />

cavalgada<br />

de sangue e penumbra.<br />

Eu<br />

o espião <strong>do</strong> Futuro-Nada<br />

- <strong>do</strong> Futuro-Nunca. (<strong>Ferreira</strong>, 1998:28)<br />

Consideran<strong>do</strong>, no seguimento de Rosa Martelo, que a epígrafe <strong>do</strong> poema “<br />

(Regresso ao cenário <strong>do</strong> cais <strong>do</strong>nde nunca partiu qualquer navio) ” pode orientar a sua<br />

leitura, pois “ [as epígrafes são] o espaço privilegia<strong>do</strong> de uma intervenção pragmática,<br />

capaz de induzir leituras tidas como mais pertinentes e adequadas” (Martelo, 2004:27),<br />

constatamos que há um sentimento de desilusão e de desencanto a percorrer to<strong>do</strong> o<br />

poema. Se a epígrafe for lida em conjugação com a última estrofe:<br />

Eu<br />

o espião <strong>do</strong> Futuro-Nada<br />

- <strong>do</strong> Futuro-Nunca.<br />

essa agonia latente é intensificada, visto que se sugere o retrato de um tempo (e de um<br />

país, talvez) sem futuro. Sen<strong>do</strong> assim, o monóstico inicial “Não choro” <strong>–</strong> que marca<br />

uma tomada de posição peremptória, mostra a vontade <strong>do</strong> poeta, perante a viagem <strong>do</strong><br />

século em si, de não se deixar fragilizar afectivamente pelas vicissitudes que se lhe<br />

72 <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>: a <strong>Poética</strong> <strong>do</strong> <strong>Canto</strong> e <strong>do</strong> <strong>Grito</strong>

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