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José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

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Em 1971, já em vésperas de organizar a sua poesia em Poeta Militante (1977), <strong>José</strong><br />

<strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> recorreu à imagem <strong>do</strong> fogo <strong>–</strong> “Tu<strong>do</strong> começa, geralmente, por um<br />

pequeno jacto de fogo” <strong>–</strong> para explicar a génese e o processo de criação artística.<br />

Através de metáforas semelhantes — iluminação, fulgor, faísca (que encontramos<br />

também nos seus poemas), <strong>–</strong> tem-se procura<strong>do</strong> definir a “dimensão ingenitamente<br />

cria<strong>do</strong>ra” como “sen<strong>do</strong> um símile da própria criação divina” (Guimarães, 1992:19).<br />

Essa dimensão tem si<strong>do</strong> plasmada no conceito de inspiração — “furor animi ou furor<br />

divinus” (ibidem).<br />

Tal concepção está presente nos poemas selecciona<strong>do</strong>s como corpus <strong>do</strong> nosso<br />

trabalho, que respeita a ordem com que surgem em Poeta Militante, e associa-se a um<br />

entendimento <strong>do</strong> poeta como ser de excepção 107 . Contu<strong>do</strong>, <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong><br />

complementa aquele “fulgor inicial” com um persistente trabalho de apuramento<br />

poético, susten<strong>do</strong>, num tempo de espera, o fogo aceso da inspiração e regressan<strong>do</strong><br />

várias vezes ao poema num contínuo labor: “e emen<strong>do</strong> um poema, cunho outro de<br />

novas estratificações de palavras vivas, corto este, acrescento aquele, reescrevo, mutilo,<br />

reinvento…”.<br />

necessária à criação, o próprio Cria<strong>do</strong>r, segun<strong>do</strong> o texto sagra<strong>do</strong>, sente a necessidade de deitar um<br />

olhar sobre a Criação, para concluir que o que fizera era «bom»” (Lourenço, 1994:70).<br />

107<br />

Sobre o estatuto <strong>do</strong>s poetas, leia-se Silvina Rodrigues Lopes: “O canto <strong>do</strong>s poemas é algo que não<br />

lhes pertence, que não é escolhi<strong>do</strong>, mas que também não é conversível em simples dávida, na<br />

medida em que não se deixa reduzir a um dito transmissível sem falha: ecoa nele uma origem secreta<br />

e indecifrável que o lança num devir infinito. O poeta detém assim um poder superior, o de<br />

imortalizar ou condenar ao esquecimento, que lhe confere uma autoridade particular” (2003:65-66).<br />

Para a definição / construção <strong>do</strong> Poeta Militante 113

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