José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
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Antes <strong>do</strong> nosso passeio final pela poesia de <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> e na sequência de<br />
uma breve introdução ao seu universo poético <strong>–</strong> na qual nos referimos brevemente ao<br />
seu mo<strong>do</strong> de fazer poesia, enunciámos os momentos determinantes da sua criação<br />
poética e defendemos a teoria da construção <strong>do</strong> auto-retrato <strong>–</strong> e de uma clarificação<br />
das opções terminológicas eleitas para este trabalho, procuraremos delimitar algumas<br />
encruzilhadas e labirintos 50 que perturbaram e/ou enriqueceram o seu percurso<br />
poético, numa estratégia de prevenção e porque nos recusamos “a seguir uma via<br />
única”. São, muitas vezes, os factos históricos 51 que ditam aos poetas as suas palavras,<br />
mas a expressão da realidade é sempre contaminada/ condicionada por estratégias<br />
literárias que se prendem com os movimentos estéticos contemporâneos <strong>do</strong> autor<br />
empírico e pelas suas próprias tensões interiores. Em <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>, os factos<br />
históricos, filtra<strong>do</strong>s pelo seu olhar atento, as escolas literárias por ele interiorizadas,<br />
ditam “ estranhos encontros (…) desvios (…) surpresas (…) trevas” que definem o seu<br />
poeta militante. O “caminhante” da sua poesia obriga-se a percorrer essas<br />
encruzilhadas, para não correr o risco de encontrar somente a “sombra” <strong>do</strong> poeta,<br />
perden<strong>do</strong>-se no labirinto desse mun<strong>do</strong> poético.<br />
50<br />
“Na poesia de <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>, há, quanto a itinerários, <strong>do</strong>is lugares privilegia<strong>do</strong>s: a<br />
encruzilhada e o labirinto (…) qualquer labirinto é feito de encruzilhadas, e todas as encruzilhadas<br />
fazem parte de labirintos mais vastos” (Coelho, 1972:97).<br />
51<br />
“Origem da história, a poesia é história, está dentro dela, projecta-se para diante, mas nunca se<br />
contém na época a que pertence, a história jamais a esgota. O destino da poesia é transcender a<br />
época (os mitos, ideias, crenças, etc. que encarna), é ser presente a todas as épocas, mas só atingir<br />
essa presença total encarnan<strong>do</strong>-se num instante, num momento histórico” (Ramos Rosa 1962:20).<br />
Encruzilhadas de uma Escrita 69