16.04.2013 Views

José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

(…) recor<strong>do</strong> de mim mesmo há 50 anos e me revejo de bibe e calção, hesitante e lírico,<br />

já com o sonho da poesia entranhan<strong>do</strong> na pele, convenci<strong>do</strong> de que não havia destino<br />

mais belo <strong>do</strong> que ser poeta — a que liguei sempre teimosamente a ideia de missão<br />

(<strong>Ferreira</strong>, 1977:171).<br />

Foi também nesse ano que publicou Lírios <strong>do</strong> Monte e, passa<strong>do</strong>s mais três, em 1921,<br />

editou Longe. Estes <strong>do</strong>is livros, assina<strong>do</strong>s <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> (ainda sem o <strong>José</strong>), serão<br />

posteriormente repudia<strong>do</strong>s pelo autor:<br />

Nos próprios Lírios <strong>do</strong> Monte, recolha insossa desse momento desbussola<strong>do</strong>, paira a<br />

inequívoca simpatia pela novidade, embora expressa com timidez de menino que teme<br />

pisar o risco (ibidem:33).<br />

De resto, esse repúdio já existia inconscientemente na cabeça <strong>do</strong> seu autor, no<br />

momento de intitular o Longe:<br />

Chamar-se-ia Longe. (…) E devagarinho, no fluir pausa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s dias mortos e das<br />

semanas iguais, no des<strong>do</strong>bramento monótono <strong>do</strong> papel de forrar casas <strong>do</strong>s meses<br />

idênticos, foi-se tornan<strong>do</strong> cada vez mais consciente a deliberação inexpressa de não<br />

voltar a arrojar versos para o Chia<strong>do</strong> que não correspondessem à <strong>do</strong>r e à verdade cruel<br />

<strong>do</strong>s meus abismos e espinhos (ibidem:73).<br />

Continuava longe daquilo que desejava poeticamente. Por isso, o autor empírico<br />

recusou o eu <strong>do</strong> autor textual <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is primeiros livros de poesia. O repúdio<br />

consumou-se literariamente e originou um interregno poético, isto é, o poeta concedeu<br />

Universo da Criação <strong>Poética</strong> 43

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!