José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
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Este desafio ao poeta é retoma<strong>do</strong> no poema VIII de A morte de D. Quixote (<strong>Ferreira</strong>;<br />
1990a:79). Toman<strong>do</strong> como imagem o fogo que está na seiva das árvores (“estas árvores<br />
cheiram a princípio de mun<strong>do</strong>”) ou no interior convulsiona<strong>do</strong> da terra que se expande<br />
em vulcões (“espadas de fogo / fundas como terramotos / a fenderem o pasmo <strong>do</strong>s<br />
vulcões”), o poeta rejeita o conformismo impotente de um seu qualquer acto cria<strong>do</strong>r:<br />
E queres tu criar não sei o quê<br />
com o espírito que paira nas lágrimas <strong>do</strong>s pobres. (ibidem)<br />
Perante a consciência da impotência só resta um grito: “Poeta: incendeia a espada”.<br />
A linguagem metafórica e simbólica <strong>do</strong> “incêndio” e da “espada” conduzem ao grito de<br />
Josué <strong>–</strong> ao convite à tomada da cidade: a vontade de destruir, para haver um<br />
renascimento das cinzas, pedin<strong>do</strong> aos homens <strong>do</strong> futuro que oiçam “este poeta<br />
ignora<strong>do</strong> (…) que …) vai atirar versos “duros (…) afia<strong>do</strong>s (…) agrestes (…) rudes”<br />
(<strong>Ferreira</strong>, 1990a:83). Igual recusa de uma poesia feita de comiseração com as lágrimas<br />
“da mulher de xaile”, “de crianças espantadas…”, “de carne humana”, “lágrimas de<br />
grito”, surge no poema XIII de Panfleto contra a Paisagem (<strong>Ferreira</strong>, 1990a:100) através<br />
<strong>do</strong> desafio: “Ah! Poetas: não olhemos mais para o céu”. Esta expressão que reitera o<br />
seu comprometimento extensível a to<strong>do</strong>s os poetas.<br />
A sua ânsia de intervir e de se imiscuir na terra é pautada, essencialmente, pelo<br />
grito, como prova o poema VII da série Heróicas. Nele, o poeta estabeleceu o confronto<br />
entre duas atitudes: cantar e gritar <strong>–</strong> “nós não queremos cantar” (…) “preferimos andar<br />
Para a definição / construção <strong>do</strong> Poeta Militante 143