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José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

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Assim, Poesia e História serão a base de uma hermenêutica <strong>–</strong> uma chave de<br />

compreensão para ler os acontecimentos não em forma diarística, mas em forma de<br />

auto-retrato <strong>do</strong> poeta militante. É nesse espaço <strong>do</strong> auto-retrato, onde se denunciam as<br />

tensões e as alteridades <strong>do</strong> poeta, que estas, embora se digladiem, coexistem. Assim, a<br />

História, alvo da nossa análise, não foi só aquela exterior ao poeta, foi sobretu<strong>do</strong> a<br />

história <strong>do</strong>s seus dramas (dialogan<strong>do</strong> consigo próprio, produz o dinamismo dialógico<br />

<strong>do</strong> texto). Embora os acontecimentos históricos sejam lembra<strong>do</strong>s no processo de<br />

construção, este é também invadi<strong>do</strong> pela imaginação e pelo devaneio. O passa<strong>do</strong><br />

revisita<strong>do</strong> é matéria <strong>do</strong> poema e construtor da imagética das vivências no presente, por<br />

isso a ordem da criação não é cronológica. <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> impõe uma ordem<br />

selectiva à balbúrdia da experiência vivida, fazen<strong>do</strong> emergir, desse emaranha<strong>do</strong> de<br />

impressões e sensações <strong>do</strong> dia a dia, artefactos verbais que são resgata<strong>do</strong>s e<br />

cuida<strong>do</strong>samente apresenta<strong>do</strong>s. Para <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>, o jorro poético, que os<br />

poetas escolhi<strong>do</strong>s possuem, por si só, não constitui a arte de escrever, pois esta requer<br />

atenção e trabalho, amor e gosto pela sua (re)elaboração. Sem colocar em causa a<br />

autenticidade, o poeta <strong>do</strong>mestica os seus versos. Amante das palavras 140 , o poeta,<br />

aturada e pacientemente, espera que germinem em si para artisticamente a escolher e<br />

colocar na matriz. Desta emergência, por vezes difícil da palavra, procede a consciência<br />

140 “Várias técnicas de invenção voluntária, em que depositava fervorosas esperanças, passaram<br />

despercebidas aos críticos. Tal, por exemplo, a técnica da palavra necessária que consiste em descobrir<br />

primeiro a palavra indispensável, a palavra-fulcro, a palavra de outro, para a colocar depois no<br />

discurso poético de qualquer maneira, em último caso num sítio desproposita<strong>do</strong> e mesmo e mesmo<br />

contra a corrente da lógica gramatical <strong>do</strong> poema. (Conquanto lá aparecesse, o resto pouco<br />

importava” (<strong>Ferreira</strong>, 1991b: 154).<br />

Conclusão 161

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