José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
(…) Iniciei a minha carreira de poeta, a que mais tarde chamei de poeta militante.<br />
Escrevi principalmente para a gaveta (cita<strong>do</strong> por Torres, 1990:127-128).<br />
<strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> morreu, viva <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>. Ao associar o nome próprio aos<br />
seus apeli<strong>do</strong>s, o poeta anuncia que a sua ressurreição poética terá um carácter intimista<br />
(o nome próprio é sinal da individualidade 40 ) E deparamos com o surgimento <strong>do</strong><br />
homem novo (<strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>) e a consequente morte <strong>do</strong> homem velho (<strong>Gomes</strong><br />
<strong>Ferreira</strong>). E é com o nome de <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> que publica o seu primeiro livro de<br />
poesia, após o seu renascimento poético:<br />
Nesse Verão, [1945] como lhe constasse que eu ainda não tinha encontra<strong>do</strong> poiso no<br />
campo para convalescer, Fernan<strong>do</strong> Lopes Graça propôs-me:<br />
- Venha comigo para o Senhor da Serra, perto de Semide... (…)<br />
Combinou-se tu<strong>do</strong> e, no princípio de Setembro, cheguei ao Senhor da Serra, após a<br />
escalada da Trémoa com a menina Susaninha, filha da Srª Rosinha, à frente, de mala à<br />
cabeça...A mala onde eu metera à pressa algumas mão <strong>–</strong> cheias de poemas extraí<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
porão de palavras <strong>do</strong> meu navio em busca de naufrágio total. (<strong>Ferreira</strong>,<br />
1991b:181-182).<br />
40<br />
“Nomina sunt consequentia rerum, diziam os da meia-idade (...). E a maior parte <strong>do</strong>s modernos<br />
continua a dar-lhe [s] razão, chamem-se eles Wittgenstein <strong>–</strong> para quem o nome define o objecto (...) e<br />
o objecto (...) é a definição <strong>do</strong> nome <strong>–</strong>, ou chamem-se João qualquer coisa, até mesmo Searle <strong>–</strong> que,<br />
inicialmente sensível ao sem-senti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s nomes, acabou por admitir que uma das características da<br />
pessoa é ter o nome que tem” (Saraiva, 1986:27-28).<br />
Universo da Criação <strong>Poética</strong> 53