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José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

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estes astros forem estrelas, até iluminam, estan<strong>do</strong> em busca da “Outra voz que por<br />

acaso revele”. Conjugação de vozes e acção, as palavras não são propriedade <strong>do</strong> poeta <strong>–</strong><br />

“ sabor próprio das palavras alheias” (<strong>Ferreira</strong>, 1991a:133) - são palavras de outrem. As<br />

palavras são alheias, mas o sabor é próprio, e são palavras perdidas, pois “ perderam-se<br />

<strong>do</strong>s objectos”, que estão “naufraga<strong>do</strong>s na saliva das areias”. Falta a franqueza, a<br />

limpidez das palavras, já que se estas perderam <strong>do</strong>s objectos e não chegam a ser ditas.<br />

São palavras indizíveis. É acentua<strong>do</strong>, por isso, o trabalho organiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> poeta que é<br />

capaz de pôr ordem a este caos:<br />

El poeta no escoge sus palabras. (…) vacila entre las palabras que realmente le<br />

pertenecen, que están en él desde el principio, y las otras aprendidas en los libros o en<br />

la calle. Cuan<strong>do</strong> un poeta encuentra su palabra, la reconoce: ya estaba en él. Y él ya<br />

estaba en ella. La palabra del poeta se confunde con su ser mismo. Él es su palabra<br />

(Paz, 1992:45).<br />

Também se denuncia o caos em que as palavras vivem: “palavras (…) que se<br />

perderam <strong>do</strong>s objectos”. E surge uma dúvida: Será que a Poesia tem capacidade para<br />

organizar essa desarrumação das palavras desligadas <strong>do</strong>s objectos? Será que o poeta<br />

espera que a Poesia tenha essa função de construção <strong>do</strong> cosmos poético, assumin<strong>do</strong> a<br />

respiração <strong>do</strong>s homens, ou seja, assumin<strong>do</strong> a sua vida, construin<strong>do</strong> o teci<strong>do</strong> 112 <strong>–</strong> ou<br />

112<br />

“Texto quer dizer Teci<strong>do</strong>; mas enquanto até aqui esse teci<strong>do</strong> foi sempre toma<strong>do</strong> por um produto,<br />

por um véu acaba<strong>do</strong>, por detrás <strong>do</strong> qual se conserva, mais ou menos escondi<strong>do</strong>, o senti<strong>do</strong> (a<br />

verdade), nós acentuamos agora, no teci<strong>do</strong>, a ideia generativa de que o texto se faz, se trabalha<br />

através de um entrelaçamento perpétuo; perdi<strong>do</strong> neste teci<strong>do</strong> <strong>–</strong> nesta textura <strong>–</strong> o sujeito desfaz-se,<br />

como um aranha que se dissolvesse a si própria nas secreções construtivas da sua teia” (Barthes,<br />

1983:112).<br />

118 <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>: a <strong>Poética</strong> <strong>do</strong> <strong>Canto</strong> e <strong>do</strong> <strong>Grito</strong>

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