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José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

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Armadilha onde, de repente,<br />

aparece inteiro na minha frente<br />

alguém <strong>–</strong>outro <strong>–</strong> ninguém -tu<br />

— eu. (<strong>Ferreira</strong>; 1990a:248)<br />

O eu poético vai tecen<strong>do</strong> o seu poema com teias de proveniências opostas (céu e<br />

terra), reenvian<strong>do</strong> para a multiplicidade de universos que o envolvem, e o texto quase<br />

se revela autónomo, pois a responsabilidade da construção é <strong>do</strong>s sons, que surgem<br />

como seres produtores. E, de súbito, sob a égide da revelação, surge o texto/ teci<strong>do</strong>/<br />

armadilha que torna presente “alguém <strong>–</strong> outro <strong>–</strong> ninguém -tu/ — eu.” To<strong>do</strong>s estes<br />

pronomes estão em vez de nomes, deviam presentificá-los, mas desconhecemos os seus<br />

referentes. No entanto, esta enunciação para<strong>do</strong>xal poderá ser interpretada/<br />

esquematizada. “Alguém” tem existência poética e evoca o aparecimento de uma<br />

entidade, que afinal não é “ninguém”, mas já tinha si<strong>do</strong> “o outro”, talvez o autor<br />

empírico, <strong>do</strong> qual o eu é porta voz, e é também o tu, num encontro <strong>do</strong> eu com o leitor.<br />

Esta fraternidade singular define a relação que une o eu poético ao mun<strong>do</strong>, ao autor<br />

empírico e ao leitor. Sabemo-lo pelo destaque da<strong>do</strong> ao “eu”, que constitui o verso final<br />

e, assim, retoma anaforicamente to<strong>do</strong>s aqueles que o antecedem. Sublinha-se, por isso,<br />

mais uma vez a teoria <strong>do</strong> auto-retrato, que tem de ser o rosto da diversidade. Daí que o<br />

sinónimo de texto, neste poema, seja “armadilha”, pois as muitas faces que vão<br />

aparecen<strong>do</strong>, inerentes ao dinamismo <strong>do</strong> auto-retrato enredam o eu e vão emaranhar o<br />

leitor. Com efeito, reconhece Rosa Maria Martelo:<br />

Universo da Criação <strong>Poética</strong> 31

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