José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
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2.1. ENCRUZILHADAS HISTÓRICAS<br />
Em 1900 52 ,<br />
… nasce o século<br />
… nasce <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> 53<br />
E assim se proporciona o encontro de <strong>do</strong>is companheiros que vão empreender uma<br />
longa viagem: o século e <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>, “um capta<strong>do</strong>r invulgarmente sensível <strong>–</strong><br />
voraz <strong>–</strong> de tu<strong>do</strong> o que se passa no seu campo magnético <strong>–</strong> uma guerra, um fuzilamento<br />
(…) tu<strong>do</strong> isso ele absorve, a tu<strong>do</strong> isso reage, tu<strong>do</strong> isso devolve transfigura<strong>do</strong> ao mun<strong>do</strong><br />
exterior” (Dionísio, 1990:20). Dessa quase interminável viagem nasceu uma obra<br />
52<br />
“Quan<strong>do</strong> ele nasceu (1900) nascia o século e andava um zeppelin no ar. Coisa mágica, aquela: uma<br />
criança acabada de abrir os olhos para o mun<strong>do</strong> e uma nave de prata a subir em céu azul. Quem<br />
assim nasceu já se sabe que vinha marca<strong>do</strong> pelo sonho e <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> nunca, pelos anos fora,<br />
deixou de hastear essa bandeira. (…) Viveu igualmente o pesadelo, o la<strong>do</strong> monstruoso <strong>do</strong> século,<br />
guerras, fascismos, campos de concentração, cristandades salazaristas, maldições atómicas. Um filho<br />
preso, um amigo morto <strong>–</strong> também isso fez parte da noite dele e de tantos nós. Censuras de<br />
ministérios corruptos, ladainhas de resignação. Tu<strong>do</strong> isso. Mas o balão da sua infância subia, subia<br />
sempre e os sonhos iam-se cumprin<strong>do</strong>. Ditaduras que caíam, umas atrás das outras; impérios que<br />
naufragavam, cavernosos; um Portugal sem me<strong>do</strong> e finalmente livre. Tu<strong>do</strong> porque, como disse outro<br />
poeta, o sonho comandava a vida e fazia-se razão” (Pires;1986:141).<br />
53<br />
“Aqui jaz <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> que nasceu no princípio <strong>do</strong> século e em vão se esforçou por se<br />
habituar a ele. Poeta de passagem, espera que um dia o futuro o descubra passageiramente” (<strong>Ferreira</strong>,<br />
1971:15).<br />
70 <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>: a <strong>Poética</strong> <strong>do</strong> <strong>Canto</strong> e <strong>do</strong> <strong>Grito</strong>