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José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

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A construção <strong>do</strong> auto-retrato no Poeta Militante assenta numa duplicidade 43 que o<br />

autor atribui a si mesmo <strong>–</strong> o que emerge é produto de uma revelação, que se manifesta<br />

espontaneamente, e é produto de uma construção.<br />

Embora as actividades <strong>do</strong> emissor <strong>do</strong> texto literário e <strong>do</strong> escritor sejam<br />

frequentemente designadas como criação e cria<strong>do</strong>r, respectivamente, a denominação<br />

de criação poética para tal actividade e a sua valorização acompanham as diferentes<br />

teorizações literárias (ou poéticas). Se no Romantismo foi um termo de eleição:<br />

...com a erecção da poesia em valor absoluto, o conceito de criação poética<br />

transformar-se-á de então em diante, numa verdade e num lugar-comum da teoria e da<br />

crítica literárias (Aguiar e Silva, 1988:209),<br />

no século XX, pelo contrário, foi desvaloriza<strong>do</strong>, e até aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong><br />

substituí<strong>do</strong> pelos conceitos de construção, no formalismo russo, e de produção, nas<br />

teorias de influência marxista e freudiana, na semiótica e ainda em autores que,<br />

aceitan<strong>do</strong> uma concepção intelectualista da poesia, procedente da estética <strong>do</strong><br />

classicismo subscreviam a posição de Paul Valéry:<br />

43<br />

<strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>, confirman<strong>do</strong> o epíteto com que se auto-denomina poeta da encruzilhada <strong>–</strong><br />

combina as duas posições: a de poeta inspira<strong>do</strong> <strong>–</strong> “ Mas se me permitem lamentar, lamentarei, que a<br />

palavra inspiração esteja fora de moda. Era cómoda. Pouco explicativa, é certo, mas exprimia<br />

rapidamente o primeiro jacto da poesia que continuamos a não explicar, nem queremos talvez”<br />

(<strong>Ferreira</strong>, 1975:178), e a de poeta construtor <strong>–</strong> “porque no fun<strong>do</strong> inspiração talvez não seja mais <strong>do</strong><br />

que a construção mais ou menos rápida, de um sistema ou de uma armadilha de palavras que nos<br />

prende e nos liberta” (ibidem:179).<br />

58 <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>: a <strong>Poética</strong> <strong>do</strong> <strong>Canto</strong> e <strong>do</strong> <strong>Grito</strong>

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