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José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

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O que mais admiro nos homens (e o que neles mais me desgosta também) é a<br />

extraordinária capacidade de resistir à monotonia da realidade (…) uma das mais<br />

transcendentes missões sociais de Arte seria essa luta contra a monotonia, (que<br />

concede aos homens a faculdade de transformar a natureza, modificar as leis eternas,<br />

pôr tu<strong>do</strong> <strong>do</strong> avesso e dar um pouco de férias revoltas ao tédio organiza<strong>do</strong> em que<br />

vivemos (<strong>Ferreira</strong>, 1977:29).<br />

Também na escrita deste poema já sentimos, ainda que timidamente, laivos das<br />

encruzilhadas estéticas que se intersectam na estética gomes ferreiriana: o neo-realismo,<br />

na denúncia das injustiças sociais; o presencismo, no destaque da<strong>do</strong> ao inconformismo<br />

<strong>do</strong> eu; e até o surrealismo, nas comparações inusitadas, “As árvores dão flores/folhas,<br />

frutos e pássaros/como máquinas verdes.” e na fuga ao real “a lua não tem olhos/e<br />

ninguém vai pintar olhos à lua.”<br />

E aparecem a poesia poderosa, aquela que é capaz de fazer revolução e o poeta<br />

interventivo, aquele que é capaz de responder a esse desafio.<br />

E a dúvida que se mantinha no faze<strong>do</strong>r de poesia <strong>–</strong> “A <strong>do</strong>r de saber se sou poeta” <strong>–</strong><br />

(<strong>Ferreira</strong>, 1991:15), foi aliviada em Maio de 1931, como confessa:<br />

Na noite de 8 de Maio de 1931, num segun<strong>do</strong> andar da Rua Marquês de Fronteira,<br />

encontrei, finalmente, a expressão autêntica <strong>do</strong> poeta autêntico, há tanto procurada!<br />

(…) Escrevi dum jacto e quase sem emendas o poema Viver sempre também cansa! (…)<br />

Pouco depois aparecia na Presença. E assim entrei no âmbito da chamada Poesia<br />

Modernista. (…) E para marcar bem, para separar bem o novo <strong>do</strong> antigo poeta,<br />

acrescentei sub-repticiamente ao <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>, com que assinara os Lírios <strong>do</strong> Monte e<br />

as duas edições <strong>do</strong> Longe, o meu nome próprio: <strong>José</strong>! Passei a ser <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>.<br />

52 <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>: a <strong>Poética</strong> <strong>do</strong> <strong>Canto</strong> e <strong>do</strong> <strong>Grito</strong>

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