16.04.2013 Views

José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

da água que sempre alimentara o poder narrativo de seu pai e descobriu que esta<br />

entrava por uma torneira invisível através de um “processo demasia<strong>do</strong> complica<strong>do</strong> para<br />

explicar” (ibidem: 46). Encontrou Iff, o Génio da Água, que vinha <strong>do</strong> Mar das<br />

Correntes de Histórias, e pediu-lhe que o levasse até esse Mar. Ao chegar lá, Haroun<br />

reparou que havia muitas correntes de cor diferente que se entrelaçavam (cada fio era<br />

uma história), forman<strong>do</strong> uma tapeçaria líquida onde se encontravam as histórias<br />

inventadas e as histórias por inventar. A forma fluida determinava que as histórias<br />

gozassem da capacidade de mudar, de se transformarem em novas visões de si mesmas,<br />

de se combinarem originan<strong>do</strong> novas histórias. (…) “Assim, ao contrário de uma<br />

biblioteca de livros, o Mar das Correntes de Histórias era muito mais <strong>do</strong> que um<br />

depósito de histórias. Não era uma coisa morta, era uma coisa viva.” (Rushdie, 91:55)<br />

Foi esta bela imagem <strong>do</strong> Mar das Histórias, que evoca a criação como um processo<br />

complexo, em que a indefinição <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> mar e o emaranha<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fios ilustram a<br />

origem das poéticas e a dificuldade de encontrar o ponto inaugural, o signo originário<br />

da obra, que transportamos para a nossa reflexão sobre <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>. Embora<br />

conscientes de que o processo de criação é complexo e que muitos momentos de<br />

experimentação mental não chegam a ser regista<strong>do</strong>s, o esta<strong>do</strong> de permanente<br />

metamorfose ou transformação que caracteriza a criação coloca em discussão a própria<br />

noção de génese de ponto inaugural.<br />

Contu<strong>do</strong>, com <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong>, a nossa tarefa está facilitada, pois o autor<br />

marcou o seu (re) nascimento poético, com o poema Viver sempre também cansa,<br />

elegen<strong>do</strong>-o como porta de entrada oficial no mun<strong>do</strong> da poesia verdadeira.<br />

Universo da Criação <strong>Poética</strong> 47

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!