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José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

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acção da poesia, uma vez que sabe que “la palabra es un puente mediante el cual el<br />

hombre trata de salvar la distancia que lo separa de la realidad exterior” (Paz, 1992:36):<br />

neste intervalo<br />

entre mim e o Sol,<br />

que querem que eu cante?<br />

O brandir da poesia-arma-inútil<br />

para salvar fantasmas? (<strong>Ferreira</strong>, 1998:133).<br />

To<strong>do</strong> este poema feito de interrogações deixa transparecer a perplexidade <strong>do</strong> poeta<br />

no seu acto cria<strong>do</strong>r: não poder calar a realidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> nem a poder dizer a não ser<br />

pelo “silêncio insurrecto”. Então, o que lhe resta para cantar?<br />

Os perfis que os espelhos<br />

contemplam nas caveiras?<br />

Os cárceres altos<br />

das nuvens com olhos?<br />

Este sono tão <strong>do</strong>ce de me alongar no chão<br />

para ouvir bater as asas das palavras nas raízes? (<strong>Ferreira</strong>, ibidem)<br />

Parece sobrar a inutilidade da Poesia, a morte e a opressão/censura, talvez ligadas<br />

ao regime político extremamente vigilante, “nuvens com olhos” que <strong>do</strong> alto exerce<br />

pressão, ditada pela observação, e as palavras que não conseguem brotar: “ouvir bater<br />

as asas das palavras nas raízes?”. Silêncio imposto e necessidade da palavra, sempre o<br />

Para a definição / construção <strong>do</strong> Poeta Militante 131

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