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José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

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cria<strong>do</strong>r, numa permanente transformação poética para construir a obra 58 . São duas as<br />

razões pelas quais concedemos uma importância significativa a estas epígrafes 59 ,<br />

convocadas pelo poeta numa altura em que, ao pretender reunir a sua obra, quis<br />

refazer o seu percurso chaman<strong>do</strong> matérias que ficaram elididas por motivos de<br />

censura. Por um la<strong>do</strong>, elas representam uma ancoragem na realidade política da sua<br />

época; por outro, justificam a nossa selecção <strong>do</strong>s acontecimentos políticos, ideológicos<br />

e sociais, que marcaram historicamente o século XX, tanto em Portugal como no resto<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, que se circunscreve à influência que esses eventos representam nas<br />

preocupações <strong>do</strong> poeta e ao seu consequente reflexo nos seus textos, pela voz <strong>do</strong> seu eu<br />

poético. O conjunto das epígrafes representa, portanto, a ilustração <strong>do</strong> século 60 que o<br />

poeta visitou incessantemente, sen<strong>do</strong> igualmente parte integrante <strong>do</strong> seu auto-retrato 61 .<br />

58<br />

Atente-se, a este propósito, na leitura de Maria Alzira Seixo: “ (…) foi talvez um homem isola<strong>do</strong>, por<br />

essa capacidade incomparável de entender, em cada situação, os matizes da sua diferença, e de<br />

manifestar literariamente esse entendimento. Insistentemente, com revolta, com muito entusiasmo.<br />

Com brandura também. E, com resignação, só “à Poesia”, cujas “pontes mágicas (…) permitem o<br />

reencontro <strong>do</strong> meio século central da nossa época, em sentida apreensão, devotada coincidência e<br />

alvoroça<strong>do</strong> fulgor” (2001:382).<br />

59<br />

A transcrição das epígrafes de <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> relativas a acontecimentos históricos, que são<br />

mencionadas na primeira parte deste capítulo, constitui o Anexo II deste trabalho. Optámos por<br />

remeter essas epígrafes para anexo, porque consideramos que a sua inclusão em nota de rodapé ou<br />

no corpo <strong>do</strong> texto tornaria a leitura desnecessariamente morosa, desvian<strong>do</strong>-nos, em parte, <strong>do</strong>s<br />

objectivos que norteiam a sua consideração.<br />

60<br />

Alexandre Pinheiro Torres sublinha a inserção <strong>do</strong> poeta na sua época: “A verdade é que <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong><br />

<strong>Ferreira</strong> é o primeiro poeta português deste século a falar-nos (já em 1931) <strong>do</strong> perigo <strong>do</strong> fascismo, e<br />

depois <strong>do</strong>s grandes cataclismos em que se tornaram a guerra civil de Espanha, a II grande Guerra, a<br />

repressão salazarista, o 25 de Abril, etc. <strong>–</strong> uma espécie de Pablo Neruda, tão poeticamente crédulo<br />

Encruzilhadas de uma Escrita 75<br />

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