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José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

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conotada, algo pejorativamente, com ligeireza / facilitação /<strong>do</strong>cilidade: “É tão fácil<br />

dizer que”. Trata-se de uma poesia das imagens, que, embora algo inusitadas, não são,<br />

contu<strong>do</strong>, comprometidas nem ideológicas. A outra, “a poesia que transforma de<br />

repente a música em lama”, não é uma enuncia<strong>do</strong>ra de imagens, é uma<br />

transforma<strong>do</strong>ra de cariz agressivo. O eu <strong>do</strong> poema procura-a: “Sim. Onde está?”<br />

E, após algumas inquirições, na parte final, torna o seu poema injuntivo: “Sim.<br />

Onde estás?” Será esta a Poesia que o poeta militante pretende? Algo desafia<strong>do</strong>ramente<br />

convoca a sua interlocutora a tornar-se presente. Através da Poesia há sempre uma<br />

encruzilhada: a velha questão da militância na Poesia e da Poesia militante.<br />

Esta ideia é retomada no poema I da série Ruas Desertas (<strong>Ferreira</strong>, 1991a:83), onde a<br />

peregrinação poética tinha como objectivo ir em busca da “ canção nunca ouvida”. Se<br />

entendermos que se trata de um poema em que o poeta procura a sua identidade, a<br />

sua definição de poesia, percebemos que o poeta só tem existência no poema <strong>–</strong> “objeto<br />

magnético, secreto sitio de encuentro de muchas fuerzas contrarias, gracias al poema<br />

podemos acceder a la experiencia poética” (Paz, 1992:25). Essa procura <strong>do</strong> poema<br />

condu-lo a uma encruzilhada, pois essa “canção” está “nas nebulosas/ para além das<br />

raízes? Ou na superfície das rosas/ com lábios de cicatrizes”. De um la<strong>do</strong>, o pólo céu,<br />

<strong>do</strong> outro, o pólo terra; de um la<strong>do</strong>, a beleza etérea, <strong>do</strong> outro, a <strong>do</strong>r. O poema I da série<br />

Cinzas (<strong>Ferreira</strong>, 1991a:107) resolve, ainda que momentaneamente, a encruzilhada. A<br />

Poesia não pode ser etérea: “a poesia tem pés de terra”, está presa aos homens. Tirar-<br />

lhe essa qualidade é destruí-la:<br />

quan<strong>do</strong> a atiramos para o céu<br />

fica só e transida<br />

Para a definição / construção <strong>do</strong> Poeta Militante 125

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