José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
militante embora <strong>–</strong> de nenhum mo<strong>do</strong> se pretende aqui invalidar tal posição <strong>–</strong> é,<br />
sobretu<strong>do</strong>, a poesia que ele serve, se é poeta. E só desse mo<strong>do</strong> serve a humanidade.<br />
Neste senti<strong>do</strong> toda a poesia é militante (Ramos Rosa, 1962:22).<br />
E <strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> serve a humanidade: vagabundean<strong>do</strong> pelas ruas 42 ,<br />
participan<strong>do</strong> em tertúlias nos cafés, viajan<strong>do</strong> a pé ou de eléctrico pela cidade,<br />
deixan<strong>do</strong>-se envolver pelos acontecimentos históricos, recolhe um manancial de<br />
informações desse mun<strong>do</strong> que o rodeia, o qual devolve ao mun<strong>do</strong>, após uma<br />
interiorização sociopoética, no seu Poeta Militante.<br />
1.3.6. O NASCIDO/O RENASCIDO <strong>–</strong> INSPIRADO OU CONSTRUTOR?<br />
<strong>José</strong> <strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> foi visita<strong>do</strong> pela poesia e disse-nos: “Escrevi dum jacto e quase<br />
sem emendas o poema Viver sempre também cansa”, o que nos evoca a sua face de poeta<br />
inspira<strong>do</strong>, mas, numa leitura que faz desta afirmação, Fernan<strong>do</strong> J. B. Martinho<br />
descobre também o seu la<strong>do</strong> laborioso:<br />
Quer isto dizer que o que se apresentava como fruto da inspiração, <strong>do</strong> delírio da<br />
entusiasmo, e assim aproximava o poeta <strong>do</strong>s profetas e <strong>do</strong>s adivinhos inspira<strong>do</strong>s, era<br />
em larga medida o resulta<strong>do</strong> de um lento processo de maturação, de um<br />
paciente/impaciente exercitar da mão, em suma, de um fazer, de um produzir, como,<br />
aliás, a etimologia de poeta não deixa de lembrar (1986: 39).<br />
42<br />
“Caminhar é decifrar linguagens mudas que unificam os objectos e permitem o encontro <strong>do</strong><br />
caminhante consigo mesmo, ainda que nesse movimento acabe por deixar a nu as suas contradições”<br />
(Carmo, 2002:54).<br />
Universo da Criação <strong>Poética</strong> 57