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José Gomes Ferreira – A Poética do Canto e do Grito - Repositório ...

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texto <strong>–</strong> que sem ele não existiria? Esta ideia aparece reiterada no poema I de Cidade<br />

inexacta (<strong>Ferreira</strong>, 1998:95), o faze<strong>do</strong>r de Poesia aparece na epígrafe como “Poeta:<br />

fabricante de bichos”. A acepção bicho, sinónimo de poema, é recorrente em <strong>José</strong><br />

<strong>Gomes</strong> <strong>Ferreira</strong> e faz <strong>do</strong> poeta um construtor (sinónimo parcial de fabricante) de<br />

bichos, logo de poemas. Já no corpo <strong>do</strong> poema aparece o termo construção aplica<strong>do</strong> à<br />

elaboração de poemas “Poemas <strong>–</strong> construções de bichos”. Além de se valorizar o<br />

carácter construtor de poesia, enaltece-se ainda o seu carácter de ser vivo, assim como a<br />

sua possibilidade de crescimento e transformação, ideia inerente à utilização <strong>do</strong> termo<br />

“bichos”. Pelo que podemos afirmar, parece “ haver entre as palavras uma tensão, um<br />

mais fun<strong>do</strong> dinamismo que as relacionam entre si como se, assim, vissem constituir<br />

um teci<strong>do</strong> cujos fios se estreitassem em algo que, ao mesmo tempo, é unifica<strong>do</strong>r e<br />

fugitivo” (Guimarães, 1996: 25).<br />

Mas a interrogação que nos surgiu a propósito <strong>do</strong> poema II da série Cinzas, talvez<br />

tenha a sua resposta no poema I de Pinhal (<strong>Ferreira</strong>, 1998:135): “Poeta <strong>–</strong> o ofício de<br />

tecer respirações de homens nas palavras” 113 . Associa-se, de novo, o trabalho poético ao<br />

labor, à arte, à aprendizagem, ideias que o termo ofício convoca. Este labor é exigente,<br />

daí que o ofício de construção poética seja apelida<strong>do</strong> de “desespera<strong>do</strong>”, termo que<br />

confirma essa exigência e, ao mesmo tempo, reenvia para a violência <strong>do</strong> acto poético,<br />

topos muito glosa<strong>do</strong> na literatura.<br />

113<br />

E podemos afirmar, com Suzanne Allaire: “mais la poésie n’est pas seulement affaire de mots, ces<br />

phrases <strong>do</strong>nt par la composition du poème s’ouvre et se multiplie le sens, elle en appelle aussi au<br />

soufflé vital, le soufflé de la respiration, un soufflé qui devienne chant si la mesure d’une mélodie<br />

or<strong>do</strong>nne en les rythmant mots et sonorités” (2005:36).<br />

Para a definição / construção <strong>do</strong> Poeta Militante 119

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