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Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC

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uma paixão, solitária e desatendi<strong>da</strong>. 235<br />

Quando Guiomar, sentindo que teria que agir rapi<strong>da</strong>mente e, usando de<br />

to<strong>da</strong> sua inteligência, solicita via bilhete que Luís Alves lhe peça em casamento<br />

imediatamente, acaba obrigando a inglesa a pensar rápido em novas estratégias.<br />

Ao ser consulta<strong>da</strong> pela baronesa sobre o pedido do rapaz, Mrs. Oswald sugere<br />

que a madrinha utilize de certa imposição com a afilha<strong>da</strong>:<br />

102<br />

Mrs. Oswald calou-se como quem refletia. Logo depois expôs uma<br />

série de argumentos e considerações, se não graves em<br />

substância, pelo menos nas roupas com que ela os vestia, umas<br />

roupas seriamente britânicas, como as não talharia melhor a<br />

melhor tesoura <strong>da</strong> câmara dos comuns, To<strong>da</strong> ela <strong>da</strong>va ares de um<br />

argumento vivo e sem réplica. Havia em seus cabelos, entre louro<br />

e branco, to<strong>da</strong> a rigidez de um silogismo; ca<strong>da</strong> narina parecia uma<br />

ponta de um dilema. A conclusão de tudo é que na<strong>da</strong> estava<br />

perdido, e que a felici<strong>da</strong>de de Jorge era coisa não só possível,<br />

mas até provável, uma vez que a baronesa mostrasse, – era o<br />

essencial, – certa resolução de ânimo muito útil e até<br />

indispensável naquela ocasião. 236<br />

To<strong>da</strong>via, apesar <strong>da</strong> baronesa compartilhar to<strong>da</strong>s as particulari<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />

residência com sua <strong>da</strong>ma de companhia, mantendo assim uma espécie de<br />

cumplici<strong>da</strong>de, quando se vê na presença <strong>da</strong> afilha<strong>da</strong>, a própria senhora faz<br />

questão de colocar Mrs. Oswald em seu lugar:<br />

Guiomar arrastou a cadeira que ficava mais próxima e sentou-se<br />

ao pé <strong>da</strong> baronesa. Esta, entretanto, havia dobrado lentamente a<br />

carta, e tinha os olhos no chão, como a procurar por onde<br />

começaria. Quando os levantou deu com a inglesa. Ia já a falar,<br />

mas estacou. A afeição que lhe tinha não impediu que achasse<br />

demasia<strong>da</strong> familiari<strong>da</strong>de a presença de Mrs. Oswald em<br />

semelhante ocasião. Esperou alguns instantes; mas como a<br />

inglesa parecesse inteiramente distraí<strong>da</strong>:<br />

– Mrs. Oswald, disse a baronesa, vá ver se já deram de comer<br />

aos passarinhos.<br />

A inglesa percebeu que estes passarinhos, naquele caso, eram<br />

uma pura metáfora, e que a baronesa na<strong>da</strong> mais fazia do que<br />

pedir-lhe delica<strong>da</strong>mente que se fosse embora. To<strong>da</strong>via, não se<br />

deu por acha<strong>da</strong>.<br />

– Parece-me que não, disse ela; vou já saber disso.<br />

– Olhe, disse a baronesa quando ela já ia a meio caminho;<br />

encoste- me essas portas, e dê ordem para que ninguém nos<br />

235 ASSIS, Machado de. A mão e a luva. 5ª ed. São Paulo: Ática, 1977, p. 38.<br />

236 Idem, p. 87 – 88.

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