Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
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sob um regime monárquico com uma população em sua grande maioria negra e<br />
mestiça, não incomo<strong>da</strong>ria a princípio a socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Corte, forma<strong>da</strong> basicamente<br />
por fazendeiros escravocratas, comerciantes e funcionários públicos. Muitos<br />
deles, frutos <strong>da</strong> política de povoamento do país.<br />
Além disso, essa mestiçagem não veio a ser nenhuma novi<strong>da</strong>de para os<br />
brasileiros, pelo fato de serem os portugueses – praticamente os únicos europeus<br />
a residir no país ao longo <strong>da</strong> época colonial - em parte, e já ao tempo do<br />
descobrimento do Brasil, um povo de mestiços, pois a mistura de cor tinha<br />
começado amplamente na própria metrópole antes mesmo de 1500. 50<br />
Com o tempo, to<strong>da</strong>via, o escravismo brasileiro viria a ameaçar a<br />
estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> monarquia. Primeiramente por ser o Brasil, ain<strong>da</strong> nos meados do<br />
século XIX, o único país ocidental que mantinha a escravidão legaliza<strong>da</strong> 51 e<br />
fechava os olhos ao tráfico negreiro, prática considera<strong>da</strong> ilegal por tratados<br />
internacionais e nacionais e combati<strong>da</strong> fortemente pela Inglaterra 52 .<br />
Posteriormente, devido a esse intenso comércio, a grande circulação de negros<br />
na Corte começaria a incomo<strong>da</strong>r a elite imperial, para a qual os negreiros queriam<br />
africanizar o Brasil introduzindo ca<strong>da</strong> vez mais escravos no Império 53 . Essa<br />
“massa” africana está registra<strong>da</strong> no poema Meditação de Gonçalves Dias:<br />
E nessas ci<strong>da</strong>des, vilas e aldeias, nos seus cais, praças e<br />
chafarizes – vi somente escravos [...] Por isto o estrangeiro que<br />
chega a algum porto do vasto império – consulta de novo a sua<br />
50 Para HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26ª ed. São Paulo: Companhia <strong>da</strong>s<br />
Letras, 1995, p. 53, por ser um povo de mestiços, o português não possuía o mesmo orgulho<br />
de raça, comum a seus vizinhos.<br />
51 O primeiro país <strong>da</strong> Europa a abolir o tráfico negreiro foi a Dinamarca, em 1792. Em 1807, a<br />
Grã-Bretanha também optou pelo fim do comércio de escravos, e um ano após, os Estados<br />
Unidos. O Brasil foi o último país <strong>da</strong> América Latina a abolir a escravidão. (GOULART,<br />
Mauricio. Escravidão africana no Brasil: <strong>da</strong>s origens à extinção do tráfico. São Paulo: Livraria<br />
Martins, 1950).<br />
52 A decisão <strong>da</strong> Inglaterra de lutar contra o tráfico de escravos foi mais por causa dos interesses<br />
econômicos do que por motivos humanitários. Conforme nos informa Bethell: “Privados os<br />
plantadores de açúcar <strong>da</strong>s Antilhas Britânicas do seu suprimento regular de mão-de-obra<br />
barata, era importante que os seus rivais, principalmente os de Cuba e do Brasil, que já<br />
gozavam de muitas vantagens sobre eles, ficassem colocados no mesmo pé, pelo menos<br />
nesse ponto. E, se o continente africano ia ser transformado num mercado para produtos<br />
manufaturados e numa fonte de matérias-primas (além de ser ―civilizado‖ e ―cristianizado‖),<br />
como muitos, na Grã-Bretanha, esperavam, era essencial que se fizessem todos os esforços<br />
para precipitar a total destruição do tráfico‖. (BETHELL, Leslie. A abolição do tráfico de<br />
escravos no Brasil: a Grã-Bretanha, o Brasil e a questão do tráfico de escravos, 1807 – 1869.<br />
São Paulo: Expressão e Cultura/EDUSP, 1976, p. 8).<br />
53 Alencastro cita o jornalista Evaristo <strong>da</strong> Veiga, re<strong>da</strong>tor do Aurora Fluminense, periódico publicado<br />
na ci<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, no século XIX.<br />
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