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Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC

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conservadorismo e seu comodismo em relação ao amor de Lúcia. Preconceito,<br />

conservadorismo e comodismo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> época, e do próprio Alencar.<br />

Enquanto no romance de Dumas há mais de um obstáculo na realização do amor<br />

de Armando e Margari<strong>da</strong>, no romance de Alencar tudo se encaminha para que o<br />

julgamento, a sentença e o cumprimento <strong>da</strong> pena partam de Lúcia. Dessa<br />

maneira, os “Sás” e “Coutos” <strong>da</strong> “socie<strong>da</strong>de”, Paulo, e, o próprio Alencar, se<br />

eximem de qualquer culpa pelos infortúnios <strong>da</strong> cortesã.<br />

E não poderia ser diferente. Retratar a socie<strong>da</strong>de com boa dose de<br />

veraci<strong>da</strong>de e imparciali<strong>da</strong>de, nessa época, se tornaria inconveniente e<br />

desastroso. Apontar culpados entre os senhores de “bem”, regenerar uma<br />

prostituta, denunciar preconceitos e de quebra <strong>da</strong>r um final feliz para os jovens<br />

amantes, num só romance, jamais seria aceitável. Não nesse momento <strong>da</strong><br />

afirmação <strong>da</strong> literatura brasileira, não para essa nova socie<strong>da</strong>de consumidora de<br />

romances, não para o país que insistia, ain<strong>da</strong>, em fechar os olhos para o atraso<br />

gritante que a sua elite insistia em manter.<br />

Para Schwarz, em to<strong>da</strong> forma literária há um aspecto mimético, assim<br />

como a imitação contém germes sempre formais; o impasse na construção pode<br />

ser um acerto imitativo – o que, sem redimi-lo, lhe dá pertinência artística,<br />

enquanto matéria a ser forma<strong>da</strong>, ou enquanto matéria de reflexão. Nesse sentido<br />

é preciso aceitar que, ain<strong>da</strong> que Alencar estivesse experimentando possibili<strong>da</strong>des<br />

em seus romances, Lucíola toca (mesmo que levemente) na questão social. Lúcia<br />

não é a mais a sinhazinha <strong>da</strong> casa grande, donzela sonhadora à espera do seu<br />

príncipe e aliena<strong>da</strong> dos problemas sociais a sua volta. Ela pertence à classe de<br />

pessoas marginaliza<strong>da</strong>s <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de – pessoas livres/dependentes e pobres. Se<br />

acaso ela destoa <strong>da</strong>s outras prostitutas e consegue estabili<strong>da</strong>de financeira, isto se<br />

dá por seus atributos diferenciados. Mas, no seu universo, onde impera a ven<strong>da</strong><br />

do sexo, é a única a escapar <strong>da</strong> miséria e dependência. Universo, vale lembrar,<br />

também destituído de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e amizade. Nina e Laura, companheiras de<br />

ofício e inferiores em relação à Lúcia, não hesitam em rebaixá-la perante seus<br />

clientes, para, logo em segui<strong>da</strong>, e sem qualquer remorso, usufruir de sua<br />

cari<strong>da</strong>de. O próprio Couto, o primeiro homem a lançar Lúcia na prostituição, ao<br />

encontrar a moça já instala<strong>da</strong> na casa de campo e há tempo longe dos seus<br />

“afazeres” de cortesã, não crendo em sua regeneração, a condena ferozmente: “É<br />

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