Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
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– Tudo se perdeu, disse enfim o sobrinho <strong>da</strong> baronesa, talvez por<br />
culpa sua.<br />
– Minha? perguntou Mrs. Oswald.<br />
– Sua.<br />
– Mas...<br />
Jorge hesitou um instante.<br />
– Não mostrou calor suficiente, disse ele enfim.<br />
– Que quer? disse Mrs. Oswald. O coração não se pode dominar,<br />
nem há meio de impor-lhe um sentimento. D. Guiomar é uma<br />
santa criatura, ama deveras ao seu rival; há na<strong>da</strong> mais justo do<br />
que casá-los?<br />
– De maneira que...<br />
– De maneira que tudo era lícito fazer na suposição de que ela<br />
não amava a outro, mas uma vez que ama... 246<br />
Mrs. Oswald representa, nesse sentido, não só a distinção que pode<br />
imprimir à casa que a acolhe – ela em sua condição de <strong>da</strong>ma de companhia<br />
estrangeira, a <strong>da</strong>r lustre à própria baronesa – mas também as reais condições<br />
que permeavam a vi<strong>da</strong> social do II Império: aos de baixo, mesmo com mérito,<br />
restava a acomo<strong>da</strong>ção ao domínio imposto pelos senhores. Representa, ademais,<br />
a clivagem que se estabelecia mesmo entre os pobres: Mrs. Oswald, entre o<br />
interesse de agra<strong>da</strong>r a baronesa, tendo em vista seu próprio interesse, e os<br />
interesses <strong>da</strong> baronesa e de Guiomar, rapi<strong>da</strong>mente se a<strong>da</strong>pta às novas<br />
circunstâncias, aderindo à vontade de ambas.<br />
.<br />
4.2 A ascensão social e as relações de favor<br />
Como vimos no tópico anterior, no romance A mão e a luva há um embate<br />
entre duas mulheres. A ação de uma mexe diretamente com o destino <strong>da</strong> outra, o<br />
que leva essa outra a um despertar abrupto para a reali<strong>da</strong>de de sua situação de<br />
dependente há muito esqueci<strong>da</strong>. O que interessa para nós, neste embate, é a<br />
classe social de que ambas são provenientes. De um lado temos Mrs. Oswald,<br />
“mulher inteligente e sagaz, dota<strong>da</strong> de boa índole e serviçal” 247 , que depois de<br />
enviuva<strong>da</strong> passa, a convite <strong>da</strong> baronesa, a ser sua <strong>da</strong>ma de companhia. A partir<br />
<strong>da</strong>í até a saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> afilha<strong>da</strong> <strong>da</strong> baronesa do colégio, a senhora se torna a “alma <strong>da</strong><br />
246 ASSIS, Machado de. A mão e a luva. 5ª ed. São Paulo: Ática, 1977, p. 93.<br />
247 Idem, p. 27.