Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
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– Hein?... exclamou Augusto, pondo-se de pulo duas braças longe<br />
do canapé onde estava deitado, então ela é páli<strong>da</strong>?...<br />
– A mais moça tem um ano de menos: loira, de olhos azuis, face<br />
cor-de-rosa... seio de alabastro... dentes...<br />
– Como se chama?<br />
– Joaquina.<br />
– Ai meus pecados!... disse Augusto.<br />
– Vejam como Augusto já está enternecido....<br />
– Mas, Filipe, tu já me disseste que tinhas uma irmã.<br />
– Sim, é uma moreninha de quatorze anos.<br />
Moreninha? Diabo!... exclamou outra vez Augusto, <strong>da</strong>ndo novo<br />
pulo. 136<br />
Tal diversi<strong>da</strong>de de beleza, com traços tão distintos juntos no mesmo<br />
ambiente social, agita Augusto, pois, tendo sido a princípio descrito como um<br />
namorador incorrigível, se vê, ante a possibili<strong>da</strong>de que se apresenta, numa<br />
posição muito confortável:<br />
– Mas a páli<strong>da</strong>?... a loira?... a moreninha?...<br />
– Que interessante terceto! Exclamou Augusto com tom teatral;<br />
que coleção de belos tipos!... uma jovem de dezessete anos,<br />
páli<strong>da</strong>... romântica e, sublime; uma outra, loira...de olhos azuis...<br />
faces cor-de-rosa... e... não sei que mais: enfim, clássica e por<br />
isso bela. Por último, uma terceira de quatorze anos... moreninha,<br />
que, ou seja romântica ou clássica, prosaica ou poética, ingênua<br />
ou misteriosa, há de, por força, ser interessante, travessa e<br />
engraça<strong>da</strong>; e por conseqüência qualquer <strong>da</strong>s três, ou to<strong>da</strong>s ao<br />
mesmo tempo, muito capazes de fazer de minha alma peteca, de<br />
meu coração pitorra!... 137<br />
Contudo, é a beleza européia de D. Joaquina que prevalece inicialmente.<br />
É ela que se ajusta melhor aos olhos de Augusto, porque, segundo ele, as outras<br />
moças são bonitinhas, mas D. Quinquina tem as feições mais regulares; achando-<br />
lhe mesmo muita harmonia nos cabelos loiros, olhos azuis e faces cora<strong>da</strong>s 138 . É<br />
esse o conceito de beleza para o jovem Augusto e também para seus amigos<br />
estu<strong>da</strong>ntes – a moça loira de feições regulares. Uma beleza que, em reali<strong>da</strong>de,<br />
pelas suas características, condizia muito mais com o padrão de mulheres<br />
européias: Joaquina é um modelo de musa inspiradora, “clássica e por isso<br />
bela” 139 . É bela aos olhos de todos e, assim, não há a necessi<strong>da</strong>de de buscar no<br />
136<br />
MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. Coleção: Clássicos <strong>da</strong> Literatura, São Paulo:<br />
Klick Editora, [s/d], p.17.<br />
137<br />
Idem, p. 17 – 18.<br />
138<br />
Idem, p. 29.<br />
139<br />
Assim se refere Augusto à beleza de D. Joaquina.<br />
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