Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
107<br />
o primeiro que o leitor lhe ouve desde que a conhece – e enfim<br />
estas palavras arranca<strong>da</strong>s <strong>da</strong> alma, tão dolori<strong>da</strong>s, – ia dizer tão<br />
lacrimosas, – vinham elas:<br />
– Oh! meus sonhos! meus sonhos!<br />
Não chorou; a alma dela era <strong>da</strong>s que não têm lágrimas, enquanto<br />
lhe restam forças. Os olhos estavam secos e firmes quando ela os<br />
ergueu <strong>da</strong>s mãos; o rosto tinha vestígios do abalo, mas não havia<br />
nele desânimo, menos ain<strong>da</strong> desespero. 250<br />
Ao receber a carta de Jorge, Guiomar já havia refletido sobre as<br />
conseqüências que teria que enfrentar se não correspondesse ao flerte do rapaz,<br />
“<strong>da</strong>do o amor que a baronesa tinha ao sobrinho, até que ponto a recusa iria<br />
magoá-la?” 251 Essa preocupação foi descarta<strong>da</strong> de pronto, mas a “moça refletia<br />
também na posição especial que tinha naquela casa o sobrinho <strong>da</strong> baronesa; via-<br />
se obriga<strong>da</strong> à presença dele, e talvez à luta, porque o pretendente não recuaria<br />
do primeiro golpe” 252 .<br />
De certa forma, a moça já estava prepara<strong>da</strong> para lutar e não aceitar Jorge<br />
como esposo, entretanto, tudo mu<strong>da</strong>ria com as declarações <strong>da</strong> inglesa, que “não<br />
hesitou em confiar a Guiomar o desejo <strong>da</strong> madrinha, exagerando-o, entretanto, –<br />
porque nunca a baronesa dissera que “tal casamento era a sua campanha”, e<br />
Mrs. Oswald atribuiu-lhe esta frase mortal para to<strong>da</strong>s as esperanças e sonhos <strong>da</strong><br />
moça” 253 .<br />
De fato, o plano bem elaborado de Mrs. Oswald, as palavras certas nas<br />
horas certas, criam uma situação que não dá margens para desconfiança. A<br />
baronesa crê que Jorge é a pessoa ideal para Guiomar e que a moça não se<br />
oporia em casar-se com ele. E, ao mesmo tempo, Guiomar crê que sua madrinha,<br />
ao desejar vê-la casa<strong>da</strong> com seu sobrinho, está na ver<strong>da</strong>de impondo sua<br />
vontade.<br />
Até os fatos serem esclarecidos pela baronesa, “tornara-se Guiomar uma<br />
criatura desditosa” 254 :<br />
A moça recolhera-se ao quarto, logo depois <strong>da</strong> declaração. As<br />
pessoas <strong>da</strong> casa na<strong>da</strong> puderam ler-lhe no rosto, salvo a palidez<br />
repentina e o rubor que se lhe seguiu; mas, logo que ela se achou<br />
só, deu to<strong>da</strong> a expansão aos sentimentos que até ali pudera<br />
250 ASSIS, Machado. A mão e a luva. 5ª ed. São Paulo: Ática, 1977, p. 59.<br />
251 Idem, p. 53.<br />
252 Idem.<br />
253 Idem, p. 69.<br />
254 Idem, p. 68.