Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
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Torna-se custoso encontrar inocência nos seus atos em relação a<br />
Fabrício, que “era a vítima predileta, porque também fora ele o único que se<br />
atreveu a travar luta com ela” 127 , ou do seu gesto ao esmagar a rosa que D.<br />
Quinquina oferece a Augusto. Leopoldo, também embevecido com Moreninha, em<br />
um momento em que está a sós com Augusto, aproveita para desabafar sobre o<br />
“diabinho” que “zomba de todos nós; ca<strong>da</strong> cumprimento que lhe endereçamos<br />
paga ela com uma resposta que não tem troco e que nos racha de meio a<br />
meio” 128 .<br />
Moreninha não é exatamente um anjo, e a sua inocência, se existe, ela a<br />
guar<strong>da</strong> para si. É a “diabinha”, a “feiticeira”, a “fa<strong>da</strong>” que atormenta e seduz<br />
fazendo o que bem quer com seus encantos, mas, diferentemente <strong>da</strong>s outras<br />
meninas, seu modo de agir demonstra desinteresse por tudo e todos. Se esse<br />
desinteresse é sempre intencional, não se sabe, pois em alguns momentos se<br />
percebe a aversão que sente por alguém – no caso de Fabrício – mas sabe-se<br />
também que em relação a Augusto o desinteresse é motivado pelo plano de<br />
conquistá-lo.<br />
Quando Filipe faz o convite para os amigos passarem o final de semana<br />
na ilha, ao descrever as jovens primas, que estarão presentes em sua casa, ouve<br />
de Augusto a seguinte frase: “– Ora!... o que poderão ser senão demoninhas,<br />
como são to<strong>da</strong>s as outras moças bonitas?” 129 , ou seja, o rapaz sabe do efeito que<br />
a beleza produz, e demonstra estar preparado para não se deixar envolver,<br />
gracejando que “duas primas”, para ele, “é um número de feiticeiras muito<br />
limitado. Não sejam só elas as únicas magas que em teu favor invoquem me<br />
encantar” 130 .<br />
Nessa possibili<strong>da</strong>de de flerte, programado para o final de semana,<br />
Moreninha não está incluí<strong>da</strong>, pois, como diz Augusto, duas primas não são<br />
suficientes para enfeitiçá-lo. Moreninha não está nos planos de nenhum dos<br />
rapazes, e sua presença, ain<strong>da</strong> que não atraia num primeiro momento qualquer<br />
dos convi<strong>da</strong>dos do seu irmão, à medi<strong>da</strong> que o dia passa acaba por se tornar a<br />
grande surpresa do encontro.<br />
127 MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. Coleção: Clássicos <strong>da</strong> Literatura, São Paulo:<br />
Klick Editora, [s/d], p. 73<br />
128 Idem, p. 72.<br />
129 Idem, p. 17.<br />
130 Idem, p. 20.<br />
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