Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
“poucos” estão normalmente indivíduos pertencentes à classe abasta<strong>da</strong> e em sua<br />
maioria do sexo masculino. Em outras palavras, a escolari<strong>da</strong>de, a exemplo <strong>da</strong><br />
política e do poder econômico, mais uma vez estava nas mãos de uma pequena<br />
parcela <strong>da</strong> população, nas mãos de uma elite escravocrata e patriarcal. E mesmo<br />
dentre essa elite havia diferenças no nível escolar:<br />
(...) a presença de um certo traço de orali<strong>da</strong>de nos textos<br />
brasileiros, desenvolvido por força do costume <strong>da</strong> leitura de textos<br />
em voz alta, em saraus e reuniões, o que constituía estratégia<br />
importante para aumentar o alcance <strong>da</strong> produção literária numa<br />
socie<strong>da</strong>de de analfabetos 97 .<br />
Mas como dito anteriormente, várias mu<strong>da</strong>nças ocorreram na socie<strong>da</strong>de<br />
oitocentista. E um público-leitor feminino, ain<strong>da</strong> que minguado, se formou. Para<br />
atender a esse público representado pelo contingente de leitoras – as “gentis<br />
leitoras”, obriga<strong>da</strong>s a ficar em casa, pois era-lhes ve<strong>da</strong><strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong>de pública 98 , a<br />
literatura sofre modificações. Como nos ilustra Lajolo & Zilberman, os textos<br />
passam por mu<strong>da</strong>nças estruturais, aparecem novos gêneros literários, mais<br />
prosaicos, e começa a desgastar-se o emprego de expressões eleva<strong>da</strong>s.<br />
Também o modo de produção e circulação <strong>da</strong> literatura é afetado. Acaloram-se os<br />
debates sobre os riscos e as vantagens <strong>da</strong> leitura, ou seja, matérias até então de<br />
ordem ideológica e comercial começam a interferir no processo artístico 99 .<br />
Conforme nos relata Hélio Guimarães, o principal veículo de escoamento<br />
<strong>da</strong> produção literária oitocentista era o jornal, sendo raro o romance publicado em<br />
volume sem antes ter passado pelo ro<strong>da</strong>pé dos diários cariocas 100 . O folhetim 101 ,<br />
________________________<br />
15,7% <strong>da</strong> população total, incluindo os escravos, sabiam ler e escrever, e apenas 16,9%<br />
freqüentavam escolas. Em 1890, a população geral era de 14.333.915 habitantes, desse<br />
total, apenas 1.564.481 sabiam ler. A divisão entre homens e mulheres instruídos ficou assim:<br />
ci<strong>da</strong>dão livre – 1012.097 homens e 550.981 mulheres / escravo – 958 homens e 445 mulheres.<br />
(GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Os leitores de Machado de Assis: o romance machadiano e o<br />
público de literatura no século 19. São Paulo: Nankin Editorial: EDUSP, 2004, p. 66).<br />
97<br />
GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Os leitores de Machado de Assis: o romance machadiano e o<br />
público de literatura no século 19. São Paulo: Nankin Editorial: EDUSP, 2004, p. 49.<br />
98<br />
LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A Formação <strong>da</strong> Leitura no Brasil. 2ª ed. São Paulo:<br />
Ática, 1998, p. 230.<br />
99<br />
Idem, p. 230.<br />
100<br />
GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Os leitores de Machado de Assis: o romance machadiano e o<br />
público de literatura no século 19. São Paulo: Nankin Editorial: EDUSP, 2004, p. 49 – 50.<br />
101<br />
Assim Meyer define a composição do folhetim: “caracterizado pela extensão, pelas infin<strong>da</strong>s e<br />
atraentes peripécias se alongando no tempo, desenvolvendo uma temática quer de aventuras,<br />
quer de capa e espa<strong>da</strong>, quer histórica, quer judiciário-policialesca, quer realista-sentimental,<br />
quer... tudo misturado? Comum a todos, e importantíssimo, era o suspense e o coração na<br />
46