Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
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corruptos, estu<strong>da</strong>ntes descompromissados com qualquer responsabili<strong>da</strong>de,<br />
tabeliães, mocinhas fúteis e esnobes, médicos, políticos e as senhoras de “bom-<br />
tom”.<br />
Quantos leitores não devem ter rido ao se deparar com a cena <strong>da</strong>s<br />
senhoras idosas que não se sentavam direito porque tinham hemorrói<strong>da</strong>. Ou <strong>da</strong><br />
passagem em que as <strong>da</strong>mas presentes na residência de D. Ana procuram uma<br />
explicação para o estado de Paula, ama de D. Carolina, que havia se embriagado<br />
momentos antes com um conviva. Justamente essa maneira leve de retratar a<br />
socie<strong>da</strong>de – a sua socie<strong>da</strong>de – foi um dos motivos que, conforme Serra,<br />
contribuiu para que Macedo caísse no gosto do público.<br />
Entretanto, ain<strong>da</strong> que Macedo já transpusesse em seu primeiro romance<br />
um certo ceticismo em relação ao mundo que o cercava, para Candido o autor<br />
ficou no círculo restrito <strong>da</strong> sua classe e <strong>da</strong> sua ci<strong>da</strong>de, desconhecendo<br />
personagens incompatíveis com os respectivos gêneros de vi<strong>da</strong>, traçando<br />
personagens convencionais correspondentes à expectativa corrente do leitor,<br />
segundo modelos quotidianos, acessíveis ao julgamento médio e, portanto,<br />
delimitados pelos padrões mais corriqueiros.<br />
Salienta ain<strong>da</strong> que seu romance está situado no cruzamento <strong>da</strong>s duas<br />
tendências – uma tributária do realismo miúdo, outra <strong>da</strong> idealização<br />
inverossímil 108 . Ain<strong>da</strong> segundo Candido, Macedo não inventa condições<br />
socialmente impossíveis para os personagens – as impossibili<strong>da</strong>des, se existem,<br />
são de ordem física ou psíquica, nunca de ordem social; a posição de seus<br />
personagens no mundo é sempre bem defini<strong>da</strong>; as mu<strong>da</strong>nças espirituais são<br />
abruptas e vêm de acordo com os acontecimentos e as necessi<strong>da</strong>des narrativas;<br />
o vício é a privação momentânea <strong>da</strong> virtude; mesmo a pobreza é uma suspensão<br />
<strong>da</strong> abastança; a mal<strong>da</strong>de é provisória, o bem definitivo. Em sua obra tudo se<br />
resolve, explica e perdoa 109 .<br />
O mundo retratado em A Moreninha é um mundo sem nenhum drama<br />
moral ou ético e poucos conflitos. Não há conflito de classe, nem psicológico e<br />
tampouco ideológico. A história to<strong>da</strong> se desenrola sem maiores entraves e os<br />
próprios tipos que elencamos acima se movem de maneira natural na trama. Ou<br />
108 CANDIDO, Antonio. O honrado e facundo Joaquim Manuel de Macedo. In: A Formação <strong>da</strong><br />
Literatura Brasileira, (Momentos Decisivos), 2 vols., 3ª ed. São Paulo: Ed. Martins, 1969.<br />
109 Idem, p. 139 – 141 – 143.<br />
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