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Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC

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um currículo visando preparar a mulher para enfrentar os encargos do lar e <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong>de, por ser este o âmbito <strong>da</strong> esfera pública que lhe é facultado 92 .<br />

No século XIX, essa necessi<strong>da</strong>de de instrução <strong>da</strong> mulher que Verney já<br />

pregava um século antes, ganha forças. A efervescência cultural que se instalou<br />

na ci<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro após a transferência do governo português, as<br />

modificações impostas ao sistema educacional após a independência e o<br />

consumismo desenfreado pela classe dominante de produtos europeus são<br />

alguns fatores que viriam a contribuir para que ocorressem mu<strong>da</strong>nças nos lares<br />

brasileiros. A vi<strong>da</strong> social se torna mais intensa. Receber em casa passa a ser algo<br />

rotineiro, assim como as i<strong>da</strong>s ao teatro, saraus, passeios à Rua do Ouvidor, entre<br />

outras ativi<strong>da</strong>des que aos poucos iam se tornando parte do dia-a-dia <strong>da</strong> nova<br />

classe social.<br />

Segundo Meyer, a mulher de posses deveria saber receber as visitas do<br />

marido, estar presente à mesa e às conversações. Paralelamente deveria<br />

compenetrar-se de sua nova situação social, abandonando seus antigos hábitos e<br />

europeizando o seu corpo, seus vestidos, e seus modos 93 . E é no ato <strong>da</strong> leitura<br />

que se buscará um mínimo de erudição para essa mulher.<br />

Como se observa em trecho de José Lino Coutinho citado por Meyer,<br />

seria de grande utili<strong>da</strong>de, entre outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des, a leitura de romances e<br />

folhetins 94 na educação <strong>da</strong>s jovens. Ou seja, ler deixa de ser apenas um<br />

entretenimento – ou, usando uma expressão bem corriqueira, deve-se unir o útil<br />

ao agradável. O próprio Macedo, na posição de professor de história e educador<br />

no Rio de Janeiro, viria a utilizar os livros adotados na escola primária pública<br />

feminina para <strong>da</strong>r inúmeros “exemplos excelentes” que deveriam ser seguidos<br />

pelas jovens brasileiras 95 .<br />

To<strong>da</strong>via, o nível de analfabetismo no Brasil nesse período era altíssimo,<br />

principalmente entre as mulheres. Saber ler era privilégio para poucos 96 . Nesses<br />

92<br />

LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A Formação <strong>da</strong> Leitura no Brasil. 2ª ed. São Paulo:<br />

Ática, 1998, p. 238 – 239.<br />

93<br />

MEYER, Marlyse. Folhetim: uma história. São Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1996, p. 298.<br />

94<br />

O trecho citado pertence à obra Cartas sobre a educação de Cora, de José Lino Coutinho e<br />

foram publica<strong>da</strong>s postumamente em 1849. (MEYER, Marlyse. Folhetim: uma história. São<br />

Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1996, p. 298).<br />

95<br />

HAHNER, June Edith. Emancipação do sexo feminino: a luta pelos direitos <strong>da</strong> mulher no Brasil,<br />

1850 – 1940. Florianópolis: Ed. Mulheres; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003, p. 128.<br />

96<br />

Conforme <strong>da</strong>dos apurados por Hélio Guimarães, ao longo de todo século XIX os alfabetizados<br />

não ultrapassavam 30% <strong>da</strong> população brasileira. Em 1872, apenas 18,6% <strong>da</strong> população livre e<br />

45

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