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Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC

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desempenhar o papel não só de protegi<strong>da</strong>, mas, usando de “tino e sagaci<strong>da</strong>de”, o<br />

de substituta <strong>da</strong> filha que esta perdeu 211 :<br />

Tendo presenciado, durante algum tempo, e não breve, o modo<br />

de viver entre a madrinha e Henriqueta, Guiomar pôs todo o seu<br />

esforço em reproduzir pelo mesmo teor os hábitos de outro tempo,<br />

de maneira que a baronesa mal pudesse sentir a ausência <strong>da</strong><br />

filha. Nenhum dos cui<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> outra lhe esqueceu, e se em algum<br />

ponto os alterou foi para aumentar-lhe novos. Esta intenção não<br />

escapou ao espírito <strong>da</strong> baronesa, e é supérfluo dizer que desse<br />

modo os vínculos do afeto mais se apertaram entre ambas. 212<br />

A moça tem êxito nesse propósito, a ponto de sua madrinha considerá-la<br />

mais até do que seu próprio sobrinho, filho de sua única irmã. “Guiomar é minha<br />

filha” 213 , afirma a baronesa com to<strong>da</strong> a sinceri<strong>da</strong>de que uma mãe zelosa possa<br />

ter. Considera<strong>da</strong> como sua filha, Guiomar passa a ser sua sucessora natural,<br />

posto que a própria senhora profere que “ela já não é a simples herdeira <strong>da</strong><br />

pobreza de seus pais‖, mas sim sua filha, a filha do seu coração 214 .<br />

As quali<strong>da</strong>des de Guiomar, sua postura como moça de socie<strong>da</strong>de, sua<br />

rápi<strong>da</strong> assimilação ao novo meio social, é aponta<strong>da</strong> pelo narrador como dom<br />

natural: “a plena harmonia de seus instintos com a socie<strong>da</strong>de em que entrara. A<br />

educação, que nos últimos tempos recebera, fez muito, mas não fez tudo. A<br />

natureza incumbira de completar a obra (...)” 215 . Esse dom é reforçado pela<br />

opinião <strong>da</strong> baronesa: “a natureza deu-lhe um espírito superior, de maneira que a<br />

fortuna não fez mais do que emen<strong>da</strong>r o equívoco do nascimento” 216 . Mas isso não<br />

é tudo. Ain<strong>da</strong> na opinião <strong>da</strong> madrinha, Guiomar reúne alma angelical e pura,<br />

beleza incomum e uma altivez natural.<br />

Guiomar é a pessoa perfeita para “substituir” a filha faleci<strong>da</strong> <strong>da</strong> madrinha.<br />

Por outro lado, o lugar vago é extremamente vantajoso para a órfã Guiomar. Ou<br />

seja, o arranjo do destino cabe perfeitamente a ambas as partes envolvi<strong>da</strong>s.<br />

Resta saber como se <strong>da</strong>ria essa relação se Guiomar, por mais que se<br />

esforçasse, não viesse a atender aos requisitos necessários que sua nova<br />

211 SCHWARZ, Roberto. Ao Vencedor as Batatas: forma literária e processo social nos inícios do<br />

romance brasileiro. São Paulo: Duas Ci<strong>da</strong>des, 2000, p. 96.<br />

212 ASSIS, Machado de. A mão e a luva. 5ª ed. São Paulo: Ática, 1977, p. 34.<br />

213 Idem, p. 48.<br />

214 Idem, p. 29.<br />

215 Idem, p. 34.<br />

216 Idem, p. 49.<br />

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