Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
encontrava-se o comércio sexual. Com as reformas no sistema educacional,<br />
implementa<strong>da</strong>s no Segundo Reinado, como parte integrante do projeto nacional<br />
para o país, surgiria a Escola Normal como ain<strong>da</strong> uma outra opção para as moças<br />
relativamente pobres: tornarem-se professoras de primeiras letras.<br />
Além <strong>da</strong> exclusão imposta pela elite brasileira, essas mulheres, quando<br />
buscavam na prostituição um último meio de vi<strong>da</strong>, esbarravam na concorrência<br />
<strong>da</strong>s mulheres européias também de classe menos favoreci<strong>da</strong> que, por um motivo<br />
ou outro, para aqui vieram e aqui se estabeleceram. Segundo Jeffrey Needell 157 ,<br />
na primeira metade do século, mulheres imigrantes dos Açores, que trabalhavam<br />
como domésticas ou caixeiras, eram freqüentemente força<strong>da</strong>s à prostituição pela<br />
pobreza. Na déca<strong>da</strong> de 1820, as francesas vieram trabalhar no Brasil. Elas, mais<br />
as caixeiras, buscavam seus clientes entre a elite que freqüentava a Rua do<br />
Ouvidor, que podia pagar bem por este comércio carnal. Dois elementos<br />
diferentes surgiram entre 1840 e 1870. O primeiro foi o aparecimento dos <strong>da</strong>nce-<br />
halls, dos café-cantantes e do Teatro Alcazar, lugares que ofereciam mulheres<br />
francesas de aluguel. Em 1867, chegaram as primeiras “polacas”, mulheres<br />
freqüentemente judias, que vinham <strong>da</strong> Europa do leste e que em sua maioria<br />
pertenciam ao contingente <strong>da</strong>quelas que eram vendi<strong>da</strong>s no tráfico de escravas<br />
brancas para a América do Sul. Chegando aqui, eram obriga<strong>da</strong>s a se prostituírem<br />
para poder sobreviver.<br />
Para Needell, mesmo que as polacas se destacassem <strong>da</strong>s mulheres que<br />
aqui se encontravam, devido a sua pele branca, assim como as francesas, não<br />
possuíam o mesmo refinamento destas. Desse modo “as polacas eram<br />
mercadoria destina<strong>da</strong> aos setores mais pobres <strong>da</strong> população e aos marinheiros;<br />
as francesas eram mercadoria de elite” 158 :<br />
Apesar de as mulheres francesas (em geral considera<strong>da</strong>s como a<br />
mercadoria mais lucrativa) virem, às vezes, por intermédio de<br />
________________________<br />
segurança, longe <strong>da</strong> vista de estrangeiros. Como os homens de sua classe, as mulheres<br />
sofriam não só pela insegurança no emprego e condições de trabalho miseráveis mas também<br />
pelas casas superlota<strong>da</strong>s e insalubres, doenças, uma alimentação pobre e a desnutrição,<br />
problemas ignorados pelos governos brasileiros. Além disso essas mulheres recebiam ain<strong>da</strong><br />
menos do que a miséria paga aos homens.” (HAHNER, June Edith. Emancipação do sexo<br />
feminino: a luta pelos direitos <strong>da</strong> mulher no Brasil, 1850 – 1940. Florianópolis: Ed. Mulheres;<br />
Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003, p. 183 – 184).<br />
157 NEEDELL, Jeffrey D. Belle Époque Tropical: socie<strong>da</strong>de e cultura de elite no Rio de Janeiro na<br />
vira<strong>da</strong> do século. Rio de Janeiro: Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1993, p. 202 – 203.<br />
158 Idem, p. 203.<br />
71