Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
como <strong>da</strong>s bastas madeixas negras e do rosto romanticamente<br />
pálido <strong>da</strong> última. 144<br />
Para explicar a beleza de D. Carolina, ou Moreninha, surge uma certa<br />
dificul<strong>da</strong>de. Ela não se ajusta nem à “beleza clássica” e nem à “beleza romântica”,<br />
mas ao mesmo tempo possui traços <strong>da</strong>s duas, podendo ser a junção de ambas<br />
ou até mesmo a representação de uma beleza mais condizente com a reali<strong>da</strong>de –<br />
simples, terrena e ver<strong>da</strong>deira. Se à primeira vista suas feições são comuns,<br />
contrariamente à beleza de D. Joaquina, e se, como dissemos anteriormente,<br />
num <strong>da</strong>do momento sua formosura se revela não apenas para um, mas para<br />
todos, independente se sua visão é clássica ou romântica – diferentemente do<br />
que acontece com D. Joaninha – torna-se complexo definir em que consiste a<br />
atração que a Moreninha exerce sobre os rapazes.<br />
Nessa perspectiva, refletindo sobre sua beleza amorena<strong>da</strong> contrastando<br />
com a <strong>da</strong>s outras meninas do romance e retomando o que dissemos em páginas<br />
anteriores sobre a personali<strong>da</strong>de de Moreninha, é justo pontuar o seguinte:<br />
Macedo, ao centralizar sua trama na figura de uma moreninha, representante do<br />
“tipo local”, em oposição à branca e à páli<strong>da</strong> (estereótipos recorrentes nos<br />
romances europeus), tornou-se, ao transplantar a forma européia para retratar o<br />
Rio de Janeiro do seu tempo (e do seu meio), o precursor de uma literatura que<br />
se pretendia genuinamente brasileira.<br />
Mas, e isto também já foi afirmado, trata-se, em Macedo, <strong>da</strong><br />
representação miú<strong>da</strong> <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de social do alvorecer do II Império, em que o<br />
autor se ocupa de jovens estu<strong>da</strong>ntes e meninas casadoiras. A socie<strong>da</strong>de<br />
retrata<strong>da</strong> por Macedo pertence a uma época em que as mulheres eram muito<br />
reclusas, e onde a vi<strong>da</strong> social, afora a dos grandes centros urbanos, girava<br />
basicamente dentro <strong>da</strong>s grandes casarões. O sarau, o namoro 145 , as<br />
144<br />
MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. Coleção: Clássicos <strong>da</strong> Literatura, São Paulo:<br />
Klick Editora, [s/d], p. 44.<br />
145<br />
No século XIX, o namoro era muito diferente.O rapaz só podia aproximar-se <strong>da</strong> rapariga de<br />
quem gostava com autorização do pai dela e sempre na presença de pessoas <strong>da</strong> família. As<br />
meninas desta época não podiam sair à rua sozinhas, mas era-lhes permitido ir à janela<br />
durante meia hora depois do almoço e do jantar. Os namorados não podiam encontrar-se a sós<br />
e, até o casamento, os apaixonados só se comunicavam através de cartas e só se podiam ver<br />
ao longe. Mesmo quando já eram noivos, nem todos os rapazes podiam entrar na casa <strong>da</strong> sua<br />
ama<strong>da</strong>. Contentavam-se em ficar na calça<strong>da</strong>, aguar<strong>da</strong>ndo horas segui<strong>da</strong>s para a poderem ver.<br />
Estes eram os chamados namorados “estaca” que, do meio <strong>da</strong> rua suspiravam por um lencinho<br />
ou uma madeixa de cabelo ofereci<strong>da</strong> como recor<strong>da</strong>ção. O namoro tinha ain<strong>da</strong> os seus dias e<br />
63