Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
injustiças, indivíduos marginalizados e, de maneira despretensiosa, a exposição<br />
de certa desigual<strong>da</strong>de social. Mas tudo está disposto no romance a fim de servir<br />
de fundo às histórias de amor que tanto sucesso faziam entre as senhoras e<br />
jovens sonhadoras. A socie<strong>da</strong>de, nua e crua mesmo, só viria a ser apresenta<strong>da</strong><br />
sem qualquer “véu”, e, não servindo mais como pano de fundo nas histórias, mas<br />
em primeiro plano, nos romances <strong>da</strong> “segun<strong>da</strong> fase” de Machado. É quando ele<br />
“passa a ver, a partir <strong>da</strong>í, a socie<strong>da</strong>de brasileira de cima para baixo, e a<br />
denunciar o mundo <strong>da</strong> classe dominante” 180 .<br />
No caso específico <strong>da</strong> obra de Alencar, Lucíola foge um pouco do mundo<br />
idealizado que o público leitor tanto se habituou a encontrar nas ficções <strong>da</strong> época.<br />
O romance retrata a hipocrisia <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, as trocas mercantis do sexo, o<br />
poder do dinheiro, entre outras falhas humanas. Porém, ain<strong>da</strong> que essas falhas<br />
permitam ao leitor perceber a visão do autor sobre o seu meio, o fim que dá a sua<br />
personagem evidencia sua posição dentro de uma classe que valoriza a ordem<br />
social, as instituições e os mecanismos que a asseguram e a reproduzem. Assim,<br />
Lúcia se torna a única personagem penaliza<strong>da</strong> por seus atos. Afinal é esse o fim<br />
que a socie<strong>da</strong>de espera para quem ousa viver à sua margem, e é essa a resposta<br />
que o autor lhe dá.<br />
Sobre Lucíola, Joaquim Nabuco escreveu:<br />
A originali<strong>da</strong>de de Lucíola é nenhuma; a cor local é falsa; o Rio de<br />
Janeiro não é o que o autor nos descreve; o desenho é<br />
medíocre... 181<br />
(...)<br />
Lucíola não é senão a Dame aux Camélias a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> ao uso do<br />
"demi-monde" fluminense; ca<strong>da</strong> novo romance que faz sensação<br />
na Europa tem uma edição brasileira <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo Sr. José Alencar<br />
que ain<strong>da</strong> nos fala <strong>da</strong> originali<strong>da</strong>de e do "sabor nativo" dos seus<br />
livros. 182<br />
A partir deste trecho de Nabuco, em que diz que “a cor local é falsa; o Rio<br />
de Janeiro não é o que o autor nos descreve; o desenho é medíocre‖, podemos<br />
levantar inicialmente algumas questões sobre quais elementos “determinam”, ou<br />
180 WEBER, João Hernesto. Machado de Assis: uma apresentação. In:<br />
http://www.machadodeassis.ufsc.br. Acesso em 01 de abril de 2009.<br />
181 COUTINHO, Afrânio. A polêmica Alencar-Nabuco. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro,<br />
1965, p. 136.<br />
182 Idem, p. 135.<br />
82