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Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC

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controlar as próprias pernas e já “olhava, mas não via, ou antes não sabia o que<br />

via” 87 .<br />

Em via de regra, para um escritor <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de, produzir e publicar um<br />

livro significa a busca por reconhecimento ou liber<strong>da</strong>de financeira, ou as duas<br />

coisas ao mesmo tempo 88 . Público há para todos os gostos. Mas, no século XIX,<br />

os escritores tinham que se cercar de certos cui<strong>da</strong>dos para um público-leitor que<br />

se formava, “seduzir o público e ain<strong>da</strong> consoli<strong>da</strong>r o espaço para as suas obras<br />

nascerem, crescerem e se multiplicarem” 89 .<br />

Segundo Lajolo & Zilberman, a partir <strong>da</strong> Independência houve um novo<br />

projeto educacional para a nova nação, dentro do qual se incluía, ain<strong>da</strong> que<br />

marginalmente, a instrução <strong>da</strong> mulher. Até então, a situação <strong>da</strong> mulher brasileira<br />

em face <strong>da</strong> cultura escrita era muito precária 90 . Verney, citado por Lajolo e<br />

Zilberman, defendia a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> instrução <strong>da</strong> mulher já no século XVIII 91 :<br />

“pois como mães de família elas são as nossas primeiras mestras nos primeiros<br />

anos <strong>da</strong> nossa vi<strong>da</strong>”. Elas ensinam a língua e “nos dão as primeiras idéias <strong>da</strong>s<br />

coisas”. Verney recomen<strong>da</strong> também que as mulheres leiam: ―eu digo que ain<strong>da</strong> as<br />

casa<strong>da</strong>s e donzelas podem achar grande utili<strong>da</strong>de na notícia dos livros”. Sugere<br />

87<br />

MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha: Coleção: Clássicos <strong>da</strong> Literatura. São Paulo: Ed.<br />

Klick, [s/d], p. 90.<br />

88<br />

Não se pretende dizer com isso que tais intenções sejam exclusivi<strong>da</strong>de do momento atual. O<br />

que desejamos apontar é que muito mais que esses desejos intrínsecos, o escritor do século<br />

XIX possuía mais desafios. Lajolo & Zilberman assim se referem ao materialismo que permeia<br />

uma publicação: ―O livro, suporte físico de um saber, mas também objeto industrializado<br />

submetido à compra e ven<strong>da</strong>, vale dizer, mercadoria, é parte integrante, até essencial, dos<br />

mecanismos econômicos próprios ao capitalismo. Assume marcas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de burguesa ao<br />

se transformar em proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>; neste caso, contratos de edição e impressão, meios de<br />

distribuição e ven<strong>da</strong>, regras de tradução e condensação constituem operações que visibilizam<br />

a dimensão econômica do processo inteiro que se abre com um original e desemboca num<br />

livro.‖ (LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A Formação <strong>da</strong> Leitura no Brasil. 2ª ed. São<br />

Paulo: Ática, 1998, p. 60).<br />

89<br />

Idem, p. 18.<br />

90<br />

Idem, p. 240.<br />

91<br />

Luiz Antônio Verney (1718 – 1792), filósofo, teólogo, professor e escritor português. Crítico ao<br />

ensino então ministrado nas escolas <strong>da</strong> Companhia de Jesus, fixou-se em Roma, aos 23 anos,<br />

desenvolvendo, até ao fim <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, uma intensa ativi<strong>da</strong>de intelectual, com a intenção de<br />

reformar o ensino e a mentali<strong>da</strong>de cultural em Portugal, podendo considerar-se a publicação do<br />

seu Ver<strong>da</strong>deiro Método de Estu<strong>da</strong>r (1746), tanto pelo conteúdo como pela polêmica gera<strong>da</strong>,<br />

como um dos mais dinâmicos fatores de sistematização do ideário iluminista português. O seu<br />

projeto reformista abrange tanto o conteúdo dos currículos como as questões pe<strong>da</strong>gógicas,<br />

como o acesso <strong>da</strong> mulher à cultura. Disponível em: .<br />

Acesso em 02 de abril de 2008.<br />

44

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