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Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC

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uma perdi<strong>da</strong>!” 202<br />

Nessa linha de pensamento, não podemos esquecer, também, o jogo de<br />

atração e repulsa que Paulo dispensa a Lúcia. Ora se prostra aos anseios <strong>da</strong><br />

moça, ora a repele. Ora a define como anjo, ora a descreve como uma víbora.<br />

Paulo sucumbe aos dotes sexuais de Lúcia, mas busca nela resquícios de<br />

pureza. Enquanto lamenta que ela se preste a tal “ofício”, o rapaz usufrui do<br />

corpo, do amor e <strong>da</strong> “essência” de Lúcia. A sua passivi<strong>da</strong>de aparente mascara<br />

(sutilmente) sua ver<strong>da</strong>deira posição na trama – a de rapaz de “família” vivendo<br />

“provisoriamente” uma paixão arrebatadora por alguém que não pertence ao seu<br />

círculo social.<br />

Estas atitudes contraditórias de condenar, conviver, aceitar, usufruir e<br />

renegar – tanto <strong>da</strong> parte “pobre” como <strong>da</strong> parte “rica” do romance, postos assim,<br />

nos levam a crer que o próprio Alencar tinha ciência <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de de enformar a<br />

matéria local nos moldes europeus. Essas duali<strong>da</strong>des, dispersas em Lucíola, nos<br />

remetem novamente às palavras de Schwarz, que diz que Alencar não insiste na<br />

contradição entre a forma européia e a sociabili<strong>da</strong>de local, mas insiste em pô-las<br />

em presença, no que é membro de sua classe, que apreciava o progresso e as<br />

atuali<strong>da</strong>des culturais, a que tinha direito, e apreciava as relações tradicionais, que<br />

lhe vali<strong>da</strong>vam a eminência 203 .<br />

Como afirma o próprio Alencar:<br />

Nos grandes focos, especialmente na corte, a socie<strong>da</strong>de tem a<br />

fisionomia indecisa, vaga e múltipla, tão natural à i<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

adolescência. É o efeito <strong>da</strong> transição que se opera, e também do<br />

amálgama de elementos diversos.<br />

(...)<br />

Desta luta entre o espírito conterrâneo e a invasão estrangeira,<br />

são reflexos: Lucíola, Diva, A Pata <strong>da</strong> Gazela, e tu, livrinho, que aí<br />

vais correr o mundo com o rótulo de Sonhos d'Ouro.<br />

Tachar estes livros de confeição estrangeira, é, relevem os<br />

críticos, não conhecer fisionomia <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de fluminense, que aí<br />

está a faceirar-se pelas salas e ruas com atavios parisienses,<br />

falando a algemia universal, que é a língua do progresso, jargão<br />

erriçado de termos franceses, ingleses, italianos e agora também<br />

alemães.<br />

202<br />

ALENCAR, José de. Lucíola: um perfil de mulher. 7ª ed. São Paulo: Edições Melhoramentos,<br />

[s/d], p. 193.<br />

203<br />

SCHWARZ, Roberto. A importação do romance e suas contradições em Alencar. In: Ao<br />

Vencedor as Batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. São<br />

Paulo: Duas Ci<strong>da</strong>des, 2000, p. 70.<br />

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