Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
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Mas não seria de admirar que vivêssemos, vestíssemos e<br />
escrevêssemos pelas receitas parisienses, se era bem poderosa<br />
igualmente a sugestão de Paris sobre o mundo europeu e<br />
ocidental nessa época, tornando-se o centro de atração <strong>da</strong><br />
humani<strong>da</strong>de, o maior empório de prazer do planeta. Auferir <strong>da</strong><br />
existência tudo quanto ela nos podia <strong>da</strong>r de belo e de bom, era<br />
uma receita que então só se aviava no bulevar. 28<br />
E é justamente em meio a esse cenário “francófilo” 29 que, a partir dos anos<br />
50, D. Pedro II, preocupado com uma cultura “genuinamente nacional”, lança o<br />
projeto de unificação nacional. Símbolos são criados, rituais são rigorosamente<br />
seguidos, uma política literária é avaliza<strong>da</strong> pelo Império e uma elite se forma,<br />
criando assim um alicerce do poder. Com esses propósitos, o Imperador faria com<br />
que o Segundo Reinado passasse a ser considerado o momento fun<strong>da</strong>dor de um<br />
modelo de nacionali<strong>da</strong>de.<br />
Manter a uni<strong>da</strong>de territorial, através de uma monarquia recém-modela<strong>da</strong> e,<br />
de quebra, <strong>da</strong>r um caráter puramente nacional ao país seria, para D. Pedro II,<br />
muito mais que um projeto político, seu projeto de vi<strong>da</strong>. O monarca não mediria<br />
esforços para atingir seus objetivos, a começar por sua própria figura de<br />
Imperador. Deixa de lado seu status imperial, divino, intocável, quali<strong>da</strong>des<br />
inerentes ao cargo her<strong>da</strong>do, e adota um visual mais simples, extingue a prática do<br />
beija-mão, deixa o paço para an<strong>da</strong>r entre gente comum e passa a viver ca<strong>da</strong> vez<br />
mais isolado <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social. Carvalho assim ilustra os novos hábitos do monarca:<br />
Em Petrópolis, o imperador parecia um ci<strong>da</strong>dão comum. Vestido<br />
de casaca preta, chapéu alto, insígnia do Tosão de Ouro na<br />
lapela, passeava pela ci<strong>da</strong>de, colhia flores nos jardins, ia a<br />
exposição no palácio de Cristal, freqüentava as duchas. As<br />
crianças às vezes o cercavam. Cumprimentava as pessoas com<br />
largos gestos, conversava, trocava idéias com André Rebouças 30 ,<br />
________________________<br />
História <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong> no Brasil – Império: a corte a moderni<strong>da</strong>de nacional. São Paulo:<br />
Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1997, p. 86).<br />
28<br />
BROCA, Brito. A Vi<strong>da</strong> Literária no Brasil – 1900. Rio de Janeiro: José Olympio: Academia<br />
Brasileira de Letras, 2004, p. 141.<br />
29<br />
Delgado Carvalho explicita como era a influência francesa para o Brasil: “De fato os laços que<br />
nos ligam à França são de tal modo íntimos e constantes que, mesmo os que nos unem ao<br />
nosso querido e velho Portugal não chegam a ser equivalentes. O Brasil é um afilhado cuja<br />
madrinha desempenhou papel mais importante em sua educação do que a própria mãe. (Brasil<br />
– França: contatos e confrontos. In: Aspectos <strong>da</strong> formação e evolução do Brasil. Rio de<br />
Janeiro, Edição do Jornal do Commercio, 1953, p.171).<br />
30<br />
André Rebouças (1838 – 1898), abolicionista, tinha grande prestígio pessoal junto a D. Pedro<br />
II. No período compreendido entre a Abolição <strong>da</strong> Escravatura (13 de maio de 1888) e a<br />
Proclamação <strong>da</strong> República (15 de novembro de 1889) o imperador D. Pedro II atribuiu-lhe<br />
importantes encargos, tendo assim participado amplamente dos acontecimentos políticos do<br />
21