Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
o romantismo brasileiro. Pois D. Carolina não é diferente <strong>da</strong>s heroínas européias<br />
só exteriormente. Encontramos em sua personali<strong>da</strong>de a força, a inquietude, a<br />
simplici<strong>da</strong>de, a inteligência e o sentimento de liber<strong>da</strong>de que a torna, de certa<br />
forma, uma mulher à frente do seu tempo. Apesar de ser mais jovem que as<br />
outras moças que compõem o terceto que ocupa o romance, sua percepção para<br />
o mundo que a cerca é aguça<strong>da</strong>, o que provoca um certo desprezo pelos<br />
costumes e pela hipocrisia presente no seu círculo social. Reage de maneira<br />
irônica e mor<strong>da</strong>z a essas mazelas, o que de certa forma propicia um<br />
distanciamento entre o mundo <strong>da</strong>s outras jovens e o seu.<br />
Moreninha é avessa às convenções, prefere ficar passeando entre os<br />
rochedos a ficar reuni<strong>da</strong> com as outras meninas, prefere o silêncio <strong>da</strong> gruta a<br />
reuniões barulhentas onde o assunto é casamento, mo<strong>da</strong> ou alguém que por<br />
infelici<strong>da</strong>de foi lembra<strong>da</strong> pelas jovens. O que para ela é anulação, para suas<br />
amigas é diversão. Nessa perspectiva, Moreninha se diferencia do conjunto,<br />
obtendo assim sua individuali<strong>da</strong>de, que em vez de a reduzir perante seu meio, a<br />
engrandece perante o sexo masculino, atraindo os rapazes, ain<strong>da</strong> que lhes cause<br />
estranheza e temor.<br />
Temor porque a personali<strong>da</strong>de complexa de D. Carolina afronta os<br />
eventuais pretendentes, ain<strong>da</strong> que os encante, pois, mesmo que as outras jovens<br />
sejam “sonsas”, “caçadoras de maridos” e que tratem o amor assim como os<br />
homens o fazem, essas atitudes só se dão na particulari<strong>da</strong>de de seus quartos e<br />
entre elas, jamais perante o sexo oposto. Mas D. Carolina é autêntica em seus<br />
atos e não escolhe local nem platéia para se manifestar. Independente se de<br />
maneira pensa<strong>da</strong> ou não, é ela sempre a tomar conta <strong>da</strong> cena, causando muitas<br />
vezes embaraço entre os presentes.<br />
Podemos dizer que ao criar essa personali<strong>da</strong>de complexa de A<br />
Moreninha, Macedo, ain<strong>da</strong> que de maneira sutil, chama a atenção de forma crítica<br />
para o papel <strong>da</strong> mulher do século XIX, inseri<strong>da</strong> em uma socie<strong>da</strong>de patriarcal,<br />
onde a única carreira possível para o sexo feminino é a do casamento.<br />
Dizemos que isso ocorre de maneira sutil, pois ain<strong>da</strong> que Moreninha<br />
ironize as investi<strong>da</strong>s amorosas dos rapazes – “eu cá não custo tanto a<br />
compreendê-lo como minha prima; já sei o que querem de mim os seus<br />
53