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Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC

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de famílias abasta<strong>da</strong>s dos centros urbanos e, como tal, conviviam com o regime<br />

escravista que regia to<strong>da</strong> essa socie<strong>da</strong>de – Alencar foi bastante criticado por sua<br />

autonomia em relação ao pensamento <strong>da</strong> classe dominante <strong>da</strong> qual fazia parte, e<br />

em relação à originali<strong>da</strong>de de seus romances, principalmente no que diz respeito<br />

ao caráter nacional nas suas composições. Por sua trajetória política pelo partido<br />

Conservador, pela defesa <strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> escravidão através de peças<br />

teatrais a sustentar a obra civilizatória desta, e por textos publicados nos quais<br />

enumerava as vantagens do sistema escravista tanto para o povo brasileiro<br />

quanto para o cativo, Alencar era visto com maus olhos por aqueles que<br />

pregavam a necessi<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>nças para o país 153 .<br />

Seja como for, Alencar, imbuído de uma mentali<strong>da</strong>de conservadora sobre<br />

a socie<strong>da</strong>de local, como afirma Ribeiro, deveria demonstrar habili<strong>da</strong>de suficiente<br />

para tentar escrever um romance “pesado” para as expectativas <strong>da</strong> época, sem,<br />

com isso, macular seu perfil de autor recomendável para as moças de família 154 .<br />

Outras cortesãs já haviam feito sucesso na literatura 155 , mas Marguerite Gautier<br />

(Margari<strong>da</strong>) de La Dame Aux Camélias do escritor parisiense Alexandre Dumas<br />

Filho foi quem, segundo alguns críticos, serviu de “inspiração” para Alencar criar<br />

sua Lúcia. Margari<strong>da</strong>, a exemplo <strong>da</strong> personagem de Alencar, é uma cobiça<strong>da</strong><br />

cortesã que se apaixona por um jovem pertencente a uma classe distinta <strong>da</strong> sua.<br />

Correspondi<strong>da</strong> nesse amor e diante <strong>da</strong>s impossibili<strong>da</strong>des de sua concretização,<br />

vem a ter o mesmo fim trágico de Lúcia.<br />

153 Alencar elaborou uma teoria social sobre a questão histórica <strong>da</strong> escravidão. Segundo essa<br />

teoria, o homem escraviza pela necessi<strong>da</strong>de, sentimento intrínseco de aperfeiçoar-se, que o<br />

impele ao domínio do mundo físico, ao melhoramento material e à elevação moral. E, se essa<br />

necessi<strong>da</strong>de deflagrar a marcha do progresso, o interesse próprio é que a racionaliza.<br />

Em cartas publica<strong>da</strong>s com o pseudônimo de Erasmo, o autor tece argumentos que justificam a<br />

escravidão: 1) O cultural: o escravo, como homem selvagem que é, deve ser instruído e<br />

moralizado pelo trabalho; 2) Questão político-social: a população negra não diminuiu no<br />

cativeiro como diziam os favoráveis ao fim <strong>da</strong> escravidão. E se houvesse alguma diminuição,<br />

esta se <strong>da</strong>va porque o escravo era libertado através <strong>da</strong> carta de alforria. Nesse caso, conforme<br />

Erasmo, o alforriado passava a ser acolhido na socie<strong>da</strong>de como ci<strong>da</strong>dão brasileiro; 3) O<br />

econômico: a escravidão garantia o equilíbrio macro-econômico <strong>da</strong>s riquezas nacionais e dos<br />

cofres públicos; 4) A identi<strong>da</strong>de nacional: o sistema escravista contribuía para a formação <strong>da</strong><br />

identi<strong>da</strong>de nacional. A mistura de raça só viria a glorificar a densi<strong>da</strong>de cultural do país. Para<br />

ele, a construção de um povo novo ficaria incompleta sem o sangue africano. (ALENCAR, José<br />

de. Cartas a Favor <strong>da</strong> Escravidão. {org. Tâmis Parron}. Rio de Janeiro: Hedra, 2008).<br />

154 RIBEIRO, Luis Filipe Ribeiro. Mulheres de Papel: um estudo do imaginário em José de Alencar<br />

e Machado de Assis. Niterói: EDUFF, 1996, p. 83.<br />

155 Entre outras, Moll Flanders de Daniel Defoe, Manon Lescaut de Abade Prévost e Marion<br />

Delorme de Victor Hugo.<br />

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