Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
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importado <strong>da</strong> França, encontra um terreno fértil entre essas leitoras que passam<br />
a consumir mais e mais jornais, aguar<strong>da</strong>ndo com ansie<strong>da</strong>de os capítulos que<br />
estavam por vir. Embora o público-leitor desses folhetins na Corte fosse em<br />
número reduzido, bem distante do número do público francês, segundo Meyer, há<br />
um correlação direta entre a prosperi<strong>da</strong>de dos jornais e os folhetins, a ponto dos<br />
periódicos lançarem mão de sucessivas modificações em seus espaços –<br />
mu<strong>da</strong>nça de formato, de diagramação, dos ro<strong>da</strong>pés e dos anúncios, no intuito de<br />
aproveitar e manter o máximo possível a era <strong>da</strong> “mina de ouro folhetinesca” 102 :<br />
Tão fulgurante e rápi<strong>da</strong> penetração do folhetim francês sugere a<br />
constituição no Brasil, nas déca<strong>da</strong>s de 1840 e de 1850, de um<br />
corpo de leitores e ouvintes consumidores de novelas já em<br />
número suficiente para influir favoravelmente na ven<strong>da</strong>gem do<br />
jornal que as publica e livros que as retomam. 103<br />
O sucesso do folhetim na Corte foi tão expressivo que abarcou, ain<strong>da</strong> que<br />
timi<strong>da</strong>mente, leitores de outras classes sociais. Meyer afirma que na medi<strong>da</strong> em<br />
que foi praticamente constante a publicação do romance-folhetim europeu na<br />
maioria dos jornais brasileiros, não há como não inferir – ain<strong>da</strong> que falte a<br />
necessária pesquisa – que ele não foi só lido e ouvido pelas classes mais altas<br />
como foi sendo consumido por cama<strong>da</strong>s renova<strong>da</strong>s de leitores e ouvintes, os<br />
quais iam acompanhando as mu<strong>da</strong>nças por que passava a socie<strong>da</strong>de<br />
brasileira 104 . Ain<strong>da</strong> segundo Meyer, tudo é indistintamente consumido sob a<br />
etiqueta “melhores autores franceses”. To<strong>da</strong> novi<strong>da</strong>de de Paris era toma<strong>da</strong> como<br />
padrão de quali<strong>da</strong>de. “Altos e baixos” de lá ficam erodidos, ao atravessar os<br />
mares. Aqui, são nivelados, e, devi<strong>da</strong>mente absorvidos, levarão à constituição de<br />
“um outro que é o nosso”, como afirma Meyer 105 .<br />
Embora o consumo de jornais e o hábito de leitura tenha aumentado<br />
significativamente em conseqüência do fenômeno dos folhetins, seria exagero<br />
comparar o número de leitores <strong>da</strong> Corte com os leitores do folhetim oitocentista<br />
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mão, um lencinho não muito longe, o ritmo ágil de escrita que sustentasse uma leitura às vezes<br />
ain<strong>da</strong> soletrante, e a adequa<strong>da</strong> utilização dos macetes diversos que amarrassem o público e<br />
garantissem sua fideli<strong>da</strong>de ao jornal, ao fascículo e, finalmente levasse ao livro‖. (MEYER,<br />
Marlyse. Folhetim: uma história. São Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1996, p. 303).<br />
102 MEYER, Marlyse. Folhetim: uma história. São Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1996, p. 294.<br />
103 Idem, p. 292.<br />
104 Idem, p. 382.<br />
105 Idem.<br />
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