Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Como já dissemos anteriormente, as mulheres <strong>da</strong>s províncias viviam<br />
reclusas em suas casas, saindo apenas para as festas de igreja, procissões, em<br />
eventuais assistências aos necessitados e em alguns casos em tribunas ou<br />
saca<strong>da</strong>s de cavalha<strong>da</strong>s e toura<strong>da</strong>s. Mas era rara a presença feminina nas salas e<br />
tampouco nas ruas, e se saíam, sempre estavam acompanhas por alguém do<br />
sexo masculino pertencente à família. Já na Corte, coração do Império, e, por<br />
conseguinte, centro irradiador de mo<strong>da</strong>s e costumes, era fácil avistar grupos de<br />
mulheres circulando pelas ruas, principalmente pela Rua do Ouvidor, em busca<br />
de novi<strong>da</strong>des que as inúmeras lojas de artigos de luxo traziam <strong>da</strong> Europa,<br />
principalmente <strong>da</strong> França. Além de sair às compras, essas mulheres de classe<br />
alta tomavam chá ou simplesmente passeavam. No início do século XX esses<br />
novos hábitos já haviam caído no gosto <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de fluminense e era ca<strong>da</strong> vez<br />
mais comum a presença de um número maior de mulheres nas grandes aveni<strong>da</strong>s<br />
recém-abertas 162 .<br />
Pinho conta que pela Rua do Ouvidor, denomina<strong>da</strong> por alguém como<br />
Rainha <strong>da</strong> mo<strong>da</strong> e <strong>da</strong> elegância ou por um título que lhe foi conferido de França<br />
Antártica, transitavam “belos ranchos de moças, a maior parte com seus rostos<br />
amorenados que é a tez do Rio de Janeiro”, acompanha<strong>da</strong>s de suas famílias e<br />
amigas 163 . No desabafo deste cronista é possível observar as alterações sofri<strong>da</strong>s<br />
na Corte com o grande consumismo que varreu os países ocidentais após a<br />
Revolução Industrial e a modernização por que passou o Rio de Janeiro no século<br />
XIX:<br />
E como mu<strong>da</strong>m os tempos e os costumes – O‘ tempora, ó mores!<br />
Eu, que ain<strong>da</strong> há uns anos passados não podia entrar em um<br />
botequim, que não tinha licença para isso, vejo agora as senhoras<br />
franqueando as confeitarias, arrastando cadeiras, sentando-se à<br />
ro<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mesas, e pedindo sorvetes, nevados, doces, pastéis,<br />
vinhos, licores e cerveja aos caixeiros, como <strong>da</strong>ntes nossas mães<br />
pediam à nossa gente negra, mas de portas a dentro 164 .<br />
Entretanto, ain<strong>da</strong> que as mulheres tenham começado a sair de seus lares<br />
mais freqüentemente, jamais an<strong>da</strong>vam sozinhas, principalmente quando se<br />
162 HAHNER, June Edith. Emancipação do sexo feminino: a luta pelos direitos <strong>da</strong> mulher no Brasil,<br />
1850 – 1940. Florianópolis: Ed. Mulheres; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003.<br />
163 PINHO, Wanderley. Salões e Damas do Segundo Reinado. São Paulo: Livraria Martins, 1942.<br />
164 Idem.<br />
73