Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
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derrota e observa atentamente os astros – porque julga que um<br />
vento inimigo o levou às Costas d’África. E conhece por fim que<br />
está no Brasil. 54<br />
Reis Filho, citado por Schwarz 55 , afirma que os estratos sociais que mais<br />
benefícios tiravam de um sistema econômico baseado na escravidão e destinado<br />
exclusivamente à produção agrícola procuravam criar, para seu uso,<br />
artificialmente, ambientes com características urbanas e européias, cuja operação<br />
exigia o afastamento dos escravos e onde tudo ou quase tudo era produto de<br />
importação.<br />
Para a elite, o escravismo entranhava nos lares, no âmago <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
priva<strong>da</strong>, um elemento de instabili<strong>da</strong>de que carecia ser estritamente controlado.<br />
Surge, assim, um paradoxo entre a importância <strong>da</strong> mão de obra escrava enquanto<br />
mantenedora dos grandes latifúndios espalhados pelo território brasileiro e a<br />
mancha que esse sistema impregnava ao país perante as outras nações. O Brasil<br />
só deixaria de ser um país bárbaro 56 diante do mundo após a abolição <strong>da</strong><br />
escravidão em 1888 e <strong>da</strong> política de imigração que teve início no final do século<br />
XIX. Porém, mesmo com o fim do tráfico negreiro em 1850 e a vin<strong>da</strong> maciça,<br />
primeiramente de portugueses e posteriormente de imigrantes de outros países<br />
<strong>da</strong> Europa, o país já havia se firmado como uma nação de brancos, negros e<br />
mestiços. Restava agora (re)vesti-lo com uma roupagem que bem o<br />
representasse, uma roupagem que simbolizasse a grande diversi<strong>da</strong>de que o<br />
constituía – um Brasil de muitos credos, raças e status sociais. Mas, como diz<br />
Schwarcz 57 , tudo colaborava para a construção de uma identi<strong>da</strong>de feita de muitos<br />
empréstimos e várias incorporações.<br />
54 Informa-nos Alencastro que Gonçalves Dias (1823 – 1864), neste poema, define o sentimento<br />
do absurdo provocado pelo panorama social e político do Império. Nele, segundo Alencastro, o<br />
autor tece críticas ao Brasil em questões como o patriotismo e o abolicionismo, assuntos que<br />
só viriam a ser tratados com mais profundi<strong>da</strong>de e relevância algumas déca<strong>da</strong>s mais tarde.<br />
55 SCHWARZ, Roberto. Ao Vencedor as Batatas: forma literária e processo social nos inícios do<br />
romance brasileiro. São Paulo: Duas Ci<strong>da</strong>des, 2000, p. 23.<br />
56 Segundo esclarece Alencastro, a tolerância com o comércio negreiro reduzia o Império à<br />
categoria dos estados barbarescos do Norte <strong>da</strong> África implicados na pirataria. (ALENCASTRO,<br />
Luiz Felipe de {org.}. Vi<strong>da</strong> Priva<strong>da</strong> e ordem priva<strong>da</strong> no Império. In: História <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong> no<br />
Brasil – Império: a corte e a moderni<strong>da</strong>de nacional. São Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1997, p.<br />
29).<br />
57 SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador. D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São<br />
Paulo: Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1998.<br />
29