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Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC

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estrutura determina<strong>da</strong> pela posição <strong>da</strong> mulher, nessa socie<strong>da</strong>de acanha<strong>da</strong> de<br />

comerciantes, funcionários e fazendeiros, onde ela era um dos principais<br />

transmissores de proprie<strong>da</strong>de, um dos meios de obter fortuna ou qualificação 84 .<br />

Ain<strong>da</strong> segundo Candido, se os homens se lançam ao amor com tanta aplicação, é<br />

porque nele está a oportuni<strong>da</strong>de de colocação na vi<strong>da</strong>. Assim é igualmente com<br />

as mulheres que, percebendo ser o casamento a sua grande carreira, utilizam o<br />

amor como uma técnica de obtê-lo do melhor modo:<br />

(...) suas ingênuas intrigas sentimentais com fun<strong>da</strong>mentos bem<br />

assentados no interesse econômico, e a descrever a estratégia<br />

masculina do ponto de vista <strong>da</strong> caça ao dinheiro. A fideli<strong>da</strong>de ao<br />

meio – desven<strong>da</strong>ndo alguns mecanismos essenciais <strong>da</strong> moral<br />

burguesa, apoia<strong>da</strong> na necessi<strong>da</strong>de de adquirir, guar<strong>da</strong>r e ampliar<br />

proprie<strong>da</strong>de. Acabando por harmonizar no matrimônio o dote <strong>da</strong><br />

noiva e o talento sutilmente mercável do noivo. 85<br />

Será em meio a essas relações de interesses, de jogos amorosos e total<br />

ausência de romantismo e do namoro entendido como entrega que Macedo vai<br />

formar o par amoroso do romance – Augusto e D. Carolina. Ele é moço <strong>da</strong> roça<br />

que, assim como outros tantos moços, deixou sua família para estu<strong>da</strong>r na Corte; é<br />

alegre, jovial, namorador, mas com fortes princípios morais, o que o diferencia<br />

dos seus amigos. Ela é moça de posses, inteligente, travessa, ágil, à primeira<br />

vista destituí<strong>da</strong> de beleza, simples nos modos de se portar e vestir.<br />

Diferentemente <strong>da</strong>s outras meninas que sempre estão juntas confabulando, D.<br />

Carolina sempre está só, num aparente descaso com a reali<strong>da</strong>de que a cerca,<br />

porque em ver<strong>da</strong>de ela vê e ouve tudo o que se passa ao seu redor.<br />

E são essas quali<strong>da</strong>des de Moreninha que a diferencia <strong>da</strong>s outras<br />

mulheres do romance. Afinal, com exceção de D. Ana, avó <strong>da</strong> heroína, to<strong>da</strong>s as<br />

outras personagens femininas são descritas como fúteis, sonsas e interesseiras.<br />

O narrador não poupa nem mesmo a ama de D. Carolina, que até então era<br />

“sempre sóbria e inimiga de espíritos” 86 , mas que, em determinado momento,<br />

sendo “obriga<strong>da</strong>” por um hóspede de D. Ana, se embriaga a ponto de não<br />

84 CANDIDO, Antonio. O honrado e facundo Joaquim Manuel de Macedo. In: A Formação <strong>da</strong><br />

Literatura Brasileira, (Momentos Decisivos), 2 vols., 3ª ed. São Paulo: Ed. Martins, 1969, p.<br />

139.<br />

85 Idem.<br />

86 MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. Coleção: Clássicos <strong>da</strong> Literatura. São Paulo: Ed.<br />

Klick, [s/d], p. 83.<br />

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