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Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC

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nivela 146 .<br />

No romance que comentaremos neste capítulo, Lucíola, de José de<br />

Alencar, é possível observar também uma relação de comunhão entre dois jovens<br />

amantes – Lúcia e Paulo. To<strong>da</strong>via, essa comunhão, diferentemente do que se<br />

verificou no romance anterior, se apresenta de maneira complexa. É uma história<br />

de amor, porém como esses jovens não fazem parte do mesmo quadro social,<br />

são levados a uma trama que envolve entrega, submissão e renúncia, tudo<br />

proporcionado pelo meio em que vivem.<br />

Em Lucíola, assim como na obra de Macedo A Moreninha, temos uma<br />

heroína como figura central que direciona todo o rumo <strong>da</strong> relação amorosa. Com<br />

sua personali<strong>da</strong>de forte, seus conflitos internos e uma visão realista <strong>da</strong> sua<br />

situação perante uma socie<strong>da</strong>de dota<strong>da</strong> de preconceito diante do seu “ofício”,<br />

Lúcia envolve Paulo numa relação intensa – que do interesse carnal evolui a um<br />

amor sublime, onde o desejo é substituído gra<strong>da</strong>tivamente pela necessi<strong>da</strong>de de<br />

estar junto. Enquanto cortesã 147 , Lúcia detém as rédeas de sua vi<strong>da</strong> (em pleno<br />

século XIX) e de certa forma tem controle sobre as vontades de Paulo, mas,<br />

submeti<strong>da</strong> ao afeto deste, sente despertar a menina inocente que fora um dia.<br />

Classificado por Candido como romance para adultos 148 , Lucíola é o<br />

quarto romance de Alencar e o primeiro dos três ditos “romances de perfis<br />

femininos”. O segundo seria Diva e, por fim, Senhora. O livro foi custeado pelo<br />

próprio autor e publicado em 1862. Primeiramente, foi publicado em forma de<br />

folhetim, sob o pseudônimo de G.M. Essa decisão de se apropriar de um<br />

pseudônimo para assinar sua obra seria, para Ribeiro, uma estratégia de Alencar<br />

para esquivar-se <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> autoria de uma estória que poderia gerar<br />

melindres comprometedores para sua carreira de autor 149 . Prevenção que talvez<br />

146 CANDIDO, Antonio. O honrado e facundo Joaquim Manuel de Macedo. In: A Formação <strong>da</strong><br />

Literatura Brasileira, (Momentos Decisivos), 2 vols., 3ª ed. São Paulo: Ed. Martins, 1969.<br />

147 Antes de Lúcia já havia outra cortesã na lista de personagens femininas de Alencar. Trata-se<br />

de Carolina de As Asas de um Anjo, peça teatral que conta a história de uma moça de família<br />

que de repente se deixa envolver pelo esperto Ribeiro, rapaz de posses que a leva para viver<br />

em sua casa. Passa<strong>da</strong>s as novi<strong>da</strong>des do primeiro momento, e sem a pretensão do jovem em<br />

desposá-la, Carolina se desencanta com o rumo que havia tomado sua vi<strong>da</strong> e entra num<br />

processo de amargura consigo e com o mundo que a cerca. De vítima a algoz dos homens que<br />

passam por sua vi<strong>da</strong> – to<strong>da</strong>via, apesar de todos os seus “maus” passos – a jovem cortesã<br />

encontra no matrimônio com seu primo a sua reintegração à socie<strong>da</strong>de.<br />

148 Em Formação <strong>da</strong> Literatura Brasileira (volume 2), Candido afirma haver mais de dois<br />

Alencares: o Alencar dos rapazes, o Alencar <strong>da</strong>s mocinhas e, por fim, o Alencar dos adultos.<br />

149 RIBEIRO, Luis Filipe. Mulheres de Papel: um estudo do imaginário em José de Alencar e<br />

Machado de Assis. Niterói: EDUFF, 1996.<br />

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