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Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC

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Como era de se esperar, a miscigenação permeava to<strong>da</strong>s as cama<strong>da</strong>s<br />

sociais do país. A mulher brasileira, independente <strong>da</strong> sua classe social, seria<br />

mestiça, geralmente de pele morena, com cabelos longos, negros e olhos <strong>da</strong><br />

mesma cor. Damas loiras, pelo menos nesse período em que ain<strong>da</strong> não havia a<br />

política de imigração massiva de trabalhadores europeus para o Brasil, como<br />

ocorreria em fins do século XIX, eram raras de se encontrar. As que aqui se<br />

achavam, ou eram estrangeiras que vinham acompanha<strong>da</strong>s de familiares (pais,<br />

esposos, entre outros), ou nasci<strong>da</strong>s no país, mas com pais que migraram para o<br />

Brasil, ou, até mesmo, as “<strong>da</strong>mas importa<strong>da</strong>s” que vinham para cá em busca de<br />

oportuni<strong>da</strong>des, ou obriga<strong>da</strong>s, como é o caso <strong>da</strong>s escravas brancas, provenientes<br />

do leste <strong>da</strong> Europa 134 . Em uma passagem do livro, Pinho, ao relatar um baile que<br />

foi <strong>da</strong>do em homenagem ao Imperador na socie<strong>da</strong>de baiana, ilustra o que foi dito<br />

acima – sabia-se a nacionali<strong>da</strong>de de uma certa senhora, pois essa <strong>da</strong>ma tinha as<br />

suas feições claras "a acusar na cor dos cabelos e <strong>da</strong> tez” 135 sua origem<br />

germânica. Em suma, as mulheres brasileiras em geral, abasta<strong>da</strong>s ou não, tinham<br />

como característica a diversi<strong>da</strong>de racial. Desse modo, é compreensível o porquê<br />

do entusiasmo frente ao surgimento, na produção literária do país, <strong>da</strong>quela que<br />

viria a ser a primeira personagem com feição tipicamente brasileira, A Moreninha.<br />

Em primeiro lugar, a galeria de beleza, personali<strong>da</strong>de e comportamento<br />

feminino presente no romance A Moreninha é especialmente varia<strong>da</strong>. A beleza<br />

física não se restringe apenas a um padrão – principalmente ao padrão europeu.<br />

Ao contrário, Macedo vai buscar nas raças que formaram a civilização brasileira<br />

as características para criar suas mulheres – uma de pele branca, outra amarela<br />

e, por fim, uma espantosamente de pele morena:<br />

– A mais velha, respondeu este, tem dezessete anos, chama-se<br />

Joana, tem cabelos negros, belos olhos <strong>da</strong> mesma cor, e é páli<strong>da</strong>.<br />

134 NEEDELL, Jeffrey D. Belle Époque Tropical: socie<strong>da</strong>de e cultura de elite no Rio de Janeiro na<br />

vira<strong>da</strong> do século. Rio de Janeiro: Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1993, p. 203.<br />

135 No relato de um visitante ao Brasil, e registrado por Pinho, podemos entender a diferença entre<br />

a mulher brasileira e as estrangeiras: “A consulesa, vesti<strong>da</strong> com apuros, faria figura em<br />

qualquer círculo de Londres ou de Paris, por sua aparência e finas maneiras; a primazia<br />

porém, em uma maioria de senhoras alemãs, cabia a uma brasileira: páli<strong>da</strong> como o marfim,<br />

esguia como um indú, os grandes e negros olhos cintilantes velados de encantadora<br />

expressão de melancolia, o cabelo preto como a asa de um corvo; beleza realça<strong>da</strong> pela<br />

simplici<strong>da</strong>de do trajo, tinha ela a graça de uma sílfide e uma cativante timidez‖. (PINHO,<br />

Wanderley. Salões e Damas do Segundo Reinado. São Paulo: Livraria Martins, 1942, p. 30 –<br />

31).<br />

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