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Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC

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Em A Moreninha, temos, de um lado, um grupo de jovens, estu<strong>da</strong>ntes de<br />

medicina 75 , alegres, boêmios, preocupados apenas com o número de suas<br />

conquistas e com o desfrute do melhor que a vi<strong>da</strong> lhes podia oferecer, vendo na<br />

companhia feminina mais uma espécie de adereço que propriamente uma<br />

possibili<strong>da</strong>de de amor, a ponto de Fabrício, um dos jovens, assim definir o<br />

namoro: ―sempre entendi que uma namora<strong>da</strong> é traste tão essencial ao estu<strong>da</strong>nte,<br />

como o chapéu com que se cobre ou o livro em que se estu<strong>da</strong>” 76 . Do outro, temos<br />

moças aparentemente sonhadoras, castas e ingênuas à espera do príncipe<br />

encantado. Porém, quando estão reuni<strong>da</strong>s em suas intimi<strong>da</strong>des, revelam<br />

personali<strong>da</strong>des calculistas, volúveis, que não poupam nem o mesmo sexo com<br />

suas línguas ferinas. Mais ain<strong>da</strong>, diferentemente do que se imagina sobre uma<br />

moça romântica, essas meninas não estão exatamente à espera simplesmente do<br />

príncipe encantado, mas, isto sim, empenha<strong>da</strong>s numa constante busca por um<br />

marido:<br />

– Quem me dera já casar!... repetiu D. Clementina.<br />

– Isso é fácil, disse D. Gabriela; principalmente se devemos <strong>da</strong>r<br />

crédito aos que tanto nos perseguem com finezas. Olhem, eu<br />

vejo-me doi<strong>da</strong>!... Mais de vinte me atormentam! Querem saber o<br />

que me sucedeu ultimamente?... Eu confesso que me<br />

correspondo com cinco... isto é só para ver qual dos cinco quer<br />

casar primeiro; (...) 77<br />

75 Sabe-se já no início do romance que os rapazes são estu<strong>da</strong>ntes de medicina, mas em nenhum<br />

momento é exposto a escolari<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s moças. Para melhor compreender como funcionava o<br />

estudo entre homens e mulheres deste período citamos um pequeno trecho de Hahner: “No<br />

Brasil, tradicionalmente a educação superior servia para preparar os rapazes para profissões<br />

de prestígio, especialmente direito e medicina. Poucas conexões existiam entre tal formação e<br />

o sistema <strong>da</strong> escola primária dirigido (ain<strong>da</strong> sem muito sucesso) à massa <strong>da</strong> população, pois a<br />

maioria dos brasileiros permanecia analfabeta. A posse de um título superior era uma condição<br />

fun<strong>da</strong>mental para o ingresso no grupo de elite que dominava a vi<strong>da</strong> política do Brasil, durante o<br />

século XIX. Uma mulher não podia entrar na academia porque o que esta oferecia era um<br />

conhecimento dirigido, um currículo destinado a preparar os homens para a sobrevivência no<br />

mundo político <strong>da</strong>quela elite governante. Um aprendizado sério era um rito de puber<strong>da</strong>de<br />

exclusivamente masculino limitado a um número restrito de predestinados pelo berço, pela<br />

riqueza, ou quase sempre, por ambas as coisas‖. (HAHNER, June Edith. Emancipação do sexo<br />

feminino: a luta pelos direitos <strong>da</strong> mulher no Brasil, 1850 – 1940. Florianópolis: Ed. Mulheres;<br />

Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003, p. 134).<br />

76 MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. Coleção: Clássicos <strong>da</strong> Literatura. São Paulo: Ed.<br />

Klick, [s/d], p. 22.<br />

77 Idem, p. 79.<br />

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