Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC
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Entretanto, o autor começa a perceber certa manifestação nacional no<br />
meio literário: “mas há já muitos protestantes entre os homens de letras” e um<br />
“espírito protestante literário que começa a brilhar no horizonte pátrio” 7 .<br />
Antonio Candido diz que nesse momento tão particular <strong>da</strong> nação a<br />
literatura se fez linguagem de celebração e terno apego à terra, favoreci<strong>da</strong> pelo<br />
Romantismo, com apoio na hipérbole e na transformação do exotismo em estado<br />
de alma. O nosso céu era mais azul, as nossas flores mais viçosas, a nossa<br />
paisagem mais inspiradora que a de outros lugares 8 . E traduz em poucas palavras<br />
o que significou esse movimento:<br />
A idéia de pátria se vinculava estreitamente à <strong>da</strong> natureza e em<br />
parte extraía dela a sua justificativa. Ambas conduziam a uma<br />
literatura que compensava o atraso material e a debili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />
instituições por meio <strong>da</strong> supervalorização dos aspectos regionais,<br />
fazendo do exotismo razão de otimismo social. 9<br />
Que a escola romântica tivesse, genericamente, como característica a<br />
supervalorização do que era nacional é consenso, mas o sucesso dessa<br />
exaltação iria depender <strong>da</strong> existência ou não de uma tradição histórica e literária.<br />
O Brasil, nesse caso, não possuía nem uma nem outra. Descoberto há pouco<br />
mais de trezentos anos, seu passado histórico era recentíssimo em comparação<br />
com outros países onde o Romantismo teve suas origens. Como havia<br />
conseguido sua independência pouquíssimo tempo antes de se <strong>da</strong>r o movimento<br />
romântico no país, seu longo período de sujeição a Portugal faria com que<br />
recebesse uma literatura pronta, que não era sua, mas imposta pela metrópole,<br />
apesar de já na época colonial haver conflitos entre expressões literárias<br />
sedimenta<strong>da</strong>s e o desejo de criação de uma literatura autônoma. Ou nas palavras<br />
de Afrânio Coutinho:<br />
Desde o começo, no Brasil, a produção literária lutou ante uma<br />
alternativa: ou aceitar a tradição alienígena, ou procurar<br />
desintegrá-la e abandoná-la, tentando a criação de uma nova<br />
consciência e de uma nova tradição. Ante a contingência de povo<br />
colonizado por europeus, e não existindo forte tradição autóctone,<br />
7 MARTINS, Wilson. A crítica Literária no Brasil. Vol. 2. Rio de Janeiro: F. Alves, 1983, p.138.<br />
8 CANDIDO, Antonio. Literatura e subdesenvolvimento. In: A Educação pela noite e outros<br />
ensaios: São Paulo, Ática, 1987, p. 141.<br />
9 Idem.<br />
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