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Capítulo I - Repositório Institucional da UFSC

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Para essas moças que encaram o amor apenas como mais um dos<br />

ingredientes que compõem o casamento, até receber declaração amorosa parece<br />

ser um grande fardo:<br />

– Juro que estou completamente aturdi<strong>da</strong> com os protestos de<br />

eterna paixão do Sr. Leopoldo, disse D. Quinquina; mas é uma<br />

ver<strong>da</strong>deira desgraça ser hoje mo<strong>da</strong> ouvir com paciência quanta<br />

frivoli<strong>da</strong>de vem, não direi à cabeça, porque parece que os tolos<br />

como que não a têm, porém aos lábios de um desenxabido<br />

namorado. O tal Sr. Leopoldo... não é graça, eu ain<strong>da</strong> não vi<br />

estu<strong>da</strong>nte mais desestudável!... 78<br />

Elas vêem a figura do pretendente não exatamente com olhos de<br />

encantamento que o amor romântico, a princípio, proporciona, mas com os olhos<br />

<strong>da</strong> realização de uma conquista. Nesse olhar há inevitavelmente uma avaliação<br />

do que “foi adquirido”:<br />

– Você, D. Joaninha, acudiu D. Clementina, tem-se regalado hoje<br />

com o incomparável Fabrício. Não lhe gabo o gosto... só as<br />

perninhas que ele tem!...<br />

– Ora, respondeu aquela; ain<strong>da</strong> não tive tempo de lhe olhar para<br />

as pernas... mas também você parece que não se arrepia muito<br />

com a corcova do nariz de meu primo; confessemos, minha<br />

amiga, to<strong>da</strong>s nós gostamos de ser conquistadoras.<br />

– Pois confessamos... isso é ver<strong>da</strong>de.<br />

– Pela minha parte não diga na<strong>da</strong>, assobiou D. Gabriela mirandose<br />

no espelho; mas enfim... eu não sei se sou bonita, mas, onde<br />

quer que eu esteja, vejo-me sempre cerca<strong>da</strong> de adoradores: hoje,<br />

por exemplo, tenho-me visto doi<strong>da</strong>... perseguiram-me<br />

constantemente seis... era impossível ter tempo de mangar com<br />

todos a preceito.<br />

– Mas, D. Gabriela, onde está o seu talento?...<br />

– Pois bem, que se ponha outra no meu lugar... 79<br />

Mas os rapazes não se deixam iludir pelo amor e nem tampouco pelos<br />

sentimentos que essas moças juram sentir. Fabrício resume assim to<strong>da</strong> essa<br />

engrenagem de relações:<br />

(...) Pois meu amigo, quero te dizer: a teoria do amor do nosso<br />

tempo aplaude e aconselha o meu procedimento; tu verás que eu<br />

estou na regra, porque as moças têm ultimamente tomado por<br />

mote de todos os seus apaixonados extremos, ternos, afetos e<br />

78 MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. Coleção: Clássicos <strong>da</strong> Literatura. São Paulo: Ed.<br />

Klick, [s/d], p. 80.<br />

79 Idem, p. 80 – 81.<br />

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